Santa Mãe Sri Sarada Devi - parte 16

20.09.23 04:30 AM By Curitiba Centro Ramakrishna Vedanta

O Amor da Santa Mãe pelas suas discípulas ocidentais

Compilador: Swami Prajnatmananda

Publicado em 22/09/2023  -  22:00

Este artigo é a transcrição de uma palestra ministrada pelo Swami Prajnatmananda.

Você deve se lembrar que, em 1898, a Santa Mãe inaugurou uma escola para meninas, iniciada pela Irmã Nivedita e disse: “Que a Divina Mãe do Universo abençoe esta escola. Que as meninas treinadas aqui sejam ideais para a sociedade.”

 

Uma aluna chamada Sarala Devi estava estudando naquela escola. Ela relembrou um encontro memorável da Irmã Nivedita com a Santa Mãe em sua residência na Casa Udbodhan: “Depois do retorno da Santa Mãe de Jayrambati, uma tarde a Irmã Sudhira e eu fomos vê-la na Casa Udbodhan (em Calcutá). A irmã Sudhira comentou: 'Mãe, você ficou muito morena e magra.' A Santa Mãe respondeu: 'Nossa aldeia fica em campo aberto, você sabe; assim, a pele fica escura. Além disso, eu tive que trabalhar duro lá.” Enquanto isso, a Irmã Nivedita veio, inclinou-se para a Santa Mãe e sentou-se. Sempre que Irmã Nivedita visitava a Mãe, eu a observava sentada por um longo tempo absorta na frente da Mãe. Ela se curvava para a Mãe com total prostração e uma onda indescritível de felicidade fluia por todo o seu rosto. Ela parecia uma criança alegre olhando de perto o rosto de sua mãe. Certa vez a Santa Mãe presenteou a Irmã Nivedita com um leque de folha de palmeira com renda de lã nas bordas, que ela mesma havia feito. Recebendo aquele leque das mãos da Mãe, ela ficou fora de si e exclamou: 'Este leque foi feito por Matadevi e ela me deu.' E a Irmã tocou aquele leque na cabeça daqueles que estavam presentes ali, inclusive eu. Observando sua alegria exuberante, a Santa Mãe comentou: ‘Você vê como Nivedita está emocionada com essa coisa trivial ? Ah, como ela é simples e que fé profunda ela tem - como se ela fosse uma Deusa! Quanta devoção ela tem por Naren (Swami Vivekananda)! Porque ele nasceu neste país, ela deixou sua casa e família e veio fazer seu trabalho com seu coração e alma. Que devoção ao guru ! E que amor por este país !”. Um dia, Nivedita nos disse que a Santa Mãe visitaria nossa escola e devíamos aproveitar a ocasião festiva. Ela estava correndo ansiosamente para lá e para cá como uma garotinha. A carruagem da Santa Mãe chegou à tarde em vez de manhã. Radhu, Golap-ma e outros estavam com ela. Assim que desceu da carruagem, Nivedita prostrou-se diante dela e a conduziu até a sala de orações. Ela nos deu flores para oferecer aos pés da Santa Mãe. A Mãe pediu para as meninas cantarem um pouco. Elas o fizeram e recitaram um poema composto pela poetisa Saralabala Sarkar. A Santa Mãe escutou e apreciou o poema. Então ela pegou um doce e pediu a Nivedita que distribuísse  prasad para nós. Depois Nivedita levou a Santa Mãe e lhe mostrou toda a casa, e os artesanatos feitos pelas meninas. A Mãe ficou muito satisfeita e comentou: “As meninas aprenderam bem.” Mais tarde Nivedita levou a Mãe para o seu próprio quarto para descansar. Foi devido ao seu conhecimento da Santa Mãe que Nivedita desenvolveu uma opinião exaltada da feminilidade indiana. Um dia, a propósito, Swami Saradananda disse: “Afinal, nossas mulheres são ignorantes e iletradas.” Nivedita o interrompeu imediatamente e o contradisse com força, dizendo: “As mulheres da Índia não são de forma alguma ignorantes. Naquele país (referindo-se ao Reino Unido) alguém já ouviu tais palavras de sabedoria de mulheres como se ouve aqui ?” (Estas foram as reminiscências de uma estudante, Sarala Devi). Sarala Devi serviu a Santa Mãe e tornou-se sua discípula. Mais tarde ela fez votos monásticos e assumiu o nome de Pravrājikā Bhāratiprāna. Ela se tornou a primeira presidente do Sarada Math, um mosteiro iniciado em nome da Santa Mãe, destinado exclusivamente às mulheres.

 

Um dia a Irmã Nivedita e a Irmã Christine visitaram a Santa Mãe. Nivedita disse em bengali: “Matrudevi, apni hon amader Kāli – Santa Mãe, você é nossa Kāli.” Christine repetiu em inglês: “Oh, Santa Mãe, você é nossa Kāli”. Com isso, a Santa Mãe disse com uma risada: “Não, minhas filhas, eu não posso ser Kāli ou qualquer outro ser divino – nesse caso, eu teria que mostrar minha língua !”. Quando isso foi traduzido para elas, elas disseram: “Não, você não terá que se dar ao trabalho. Nós a consideraremos como nossa Mãe Kāli; Sri Ramakrishna é nosso Shiva.” A Santa Mãe disse com um sorriso: “Bem, pode estar tudo bem”. Então elas saíram depois de tocar seus pés. Certa vez, um discípulo expressou sua admiração à Santa Mãe quando viu pessoas vindo dos países ocidentais para vê-la. A Santa Mãe respondeu: “Certa vez, o Mestre disse em êxtase: ‘No decorrer do tempo, serei adorado em muitos lares. Inúmeros, de fato, serão meus devotos.” Nivedita uma vez me disse: “Mãe, nós éramos hindus em nossos nascimentos anteriores. Nascemos no Ocidente, para que a mensagem do Mestre se espalhe por lá.'”

 

Em 1900, quando a Irmã Nivedita foi aos Estados Unidos para arrecadar fundos para a escola das meninas, a Santa Mãe ditou uma carta para ela em bengali. Swami Saradananda traduziu-a para o inglês. Aqui está um trecho dessa carta: “Minha querida, amor para você, Khooki (filha ou menininha) Nivedita, estou tão feliz em saber que você orou ao Senhor por minha paz eterna. Você é uma manifestação da Mãe sempre bem-aventurada. Olho sua foto, que está comigo, de vez em quando; e parece que você está presente comigo. Anseio pelo dia e pelo ano em que você retornará. Que as orações que você fez por mim do coração de sua pura alma virgem sejam respondidas! Estou bem e feliz. Eu sempre oro ao Senhor para que Ele possa ajudá-la em seus nobres esforços e mantê-la forte e feliz. Eu rezo também pelo seu rápido retorno (para a Índia). Que Ele cumpra seus desejos sobre o lar das mulheres na Índia e que esse lar cumpra sua missão de ensinar o verdadeiro dharma (retidão) a todos. Ele, o Sopro do Universo, está cantando Seu próprio louvor e você está ouvindo aquela canção eterna através das coisas que chegarão a um fim. As árvores, os pássaros, as colinas e todos estão cantando louvores ao Senhor. A árvore Banyan do templo Dakshineshwar, canta Kali com certeza; e bem-aventurado aquele que tem ouvidos para ouvi-lo. Minha querida, amor a você e bênçãos e orações para seu crescimento espiritual. Você está realmente fazendo um excelente trabalho. Mas não se esqueça do seu bengali, senão não poderei entendê-la quando você voltar. Deu-me tanto prazer saber que você está falando de Dhruva, Savitri, Sita, Rama e assim por diante (sobre as grandes personalidades mitológicas). Os relatos de suas vidas santas são melhores do que toda a conversa fiada do mundo, tenho certeza. Oh! Quão belos são o Nome e as obras do Senhor! Sua, Mãe.”

 

A Irmã Nivedita, certa vez, escreveu sobre a Santa Mãe: “A Mãe pode ler, e muito de seu tempo é passado com seu Rāmāyana (Épico Hindu). Mas ela não escreve. No entanto, não se deve supor que ela seja uma mulher sem instrução. Deve-se lembrar que, como esposa de Sri Ramakrishna, ela teve a mais alta oportunidade de desenvolvimento pessoal que é possível desfrutar. A cada momento ela dá testemunho inconsciente dessa associação com a grande (personalidade). Mas nada talvez fale mais alto do que seu poder instantâneo de penetrar em um novo sentimento ou ideia religiosa. Compreendi este dom pela primeira vez na Santa Mãe, por ocasião de uma visita que ela nos fez nos últimos anos, na tarde de um certo dia de Páscoa. Antes disso, provavelmente, eu sempre estivera muito atenta, quando com ela, no esforço de aprender o que ela representava, para pensar em observá-la na posição contrária. Nesta ocasião particular, porém, depois de percorrer toda a nossa casa, a Mãe e seu grupo manifestaram o desejo de descansar na capela; e ouvir algo do significado da festa cristã (Páscoa). Seguiu-se a música pascal e o canto com nosso pequeno órgão francês. E na rapidez de sua compreensão, e na profundidade de sua simpatia por esses hinos da ressurreição, desimpedida por qualquer estranheza ou falta de familiaridade neles; vimos revelado pela primeira vez, um dos aspectos mais impressionantes da grande cultura religiosa de Sarada Devi. O mesmo poder é visto, até certo ponto, em todas as mulheres ao seu redor, que foram tocadas pela mão de Sri Ramakrishna. Mas nela, tem toda a força e certeza de alguma forma elevada e árdua de erudição.  O mesmo traço apareceu novamente uma noite, quando no meio de seu pequeno círculo, a Santa Mãe pediu a Christine e a mim que descrevêssemos para ela um casamento europeu. Com muita diversão e risos, personificando agora o “Sacerdote Cristão”, e novamente a noiva e o noivo, nós concordamos. Mas nenhuma de nós estava preparado para o efeito do voto matrimonial: “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza – até que a morte nos separe...”, foram palavras que arrancaram exclamações de prazer de todos ao nosso redor. Mas ninguém as apreciava como a Mãe. De novo e de novo, ela os repetiu para ela. ‘Oh, as palavras de Dharmi ! As palavras corretas !', disse ela.

 

A Santa  Mãe valorizava qualquer coisa que a Irmã Nivedita lhe dava. Certa vez, Nivedita deu à Santa Mãe uma pequena caixa de prata alemã, na qual guardava mechas do cabelo de Sri Ramakrishna. Ela costumava dizer: “Sempre que olho para a caixa, na hora do culto, lembro-me de Nivedita”. Em um de seus baús, a Santa Mãe guardava um velho lenço de seda esfarrapado. Sua atendente queria jogá-lo fora. “Não, criança,” ela disse. “Nivedita me deu com muito amor. Vamos preservá-lo”. Ela então pegou o lenço na mão, espalhou sementes de cominho preto em suas dobras como conservante e colocou-o cuidadosamente de volta no baú. Ela comentou: “A própria visão do lenço me lembra Nivedita. Que garota maravilhosa ela era ! No início, ela não podia falar comigo diretamente, e os meninos atuavam como intérpretes. Mais tarde, ela aprendeu a língua bengali. Ela amava muito minha mãe.”

 

Irmã Nivedita tinha olhos penetrantes, uma mente brilhante, energia indomável e profunda espiritualidade. Ela observou que, embora a Santa Mãe não tivesse educação formal, seu trato com as pessoas e seus ensinamentos eram bonitos, práticos e atraentes. O amor e o carinho divinos da Santa Mãe, o forte senso comum e a doce personalidade a cativaram. Nivedita escreveu: “Para mim, sempre pareceu que ela é a palavra final de Sri Ramakrishna quanto ao ideal da feminilidade indiana. Mas ela é a última de uma velha ordem ou o início de uma nova ? Nela se percebe aquela sabedoria e doçura que a mais simples das mulheres pode alcançar. E, no entanto, para mim, a imponência de sua cortesia e sua grande mente aberta são quase tão maravilhosas quanto sua santidade. Nunca a vi hesitar em emitir um julgamento amplo e generoso, por mais nova ou complexa que fosse a questão colocada diante dela. Sua vida é uma longa quietude de oração. Toda a sua experiência é de civilização teocrática. No entanto, ela se eleva à altura de todas as situações. Ela é torturada pela perversidade de alguém sobre ela ? O único sinal é uma estranha calma e intensidade que vem sobre ela. Alguém carrega para ela alguma perplexidade ou mortificação nascida de desenvolvimentos sociais além de seu conhecimento ? Com intuição infalível, ela vai direto ao cerne da questão e coloca o questionador na verdadeira atitude diante da dificuldade.”

 

Vale a pena mencionar aqui que a Irmã Nivedita participou do trabalho de socorro realizado pela Missão Ramakrishna em 1898 durante a pandemia de peste. Ela educou as mulheres sobre a importância da saúde e higiene durante a peste. Calcutá era a capital da Índia britânica e tinha contatos com muitas personalidades eminentes da época. Entre elas estavam poetas, escritores, artistas, cientistas, combatentes da liberdade e assim por diante. Nivedita tentou inspirá-los e ajudá-los em todos os aspectos. Ela era uma escritora prolífica também. Ela editou o Karma Yogin, o jornal nacionalista de Sri Aravinda Maharshi. A seguinte citação é de seu editorial no Karma Yogin, que retrata seu intenso respeito pela Índia: “Toda a história do mundo mostra que o intelecto indiano é inigualável. Isso deve ser comprovado pelo desempenho de uma tarefa além do poder dos outros, a conquista do primeiro lugar no avanço intelectual do mundo”. Os estudiosos são da opinião de que o advento de Sri Ramakrishna e seus discípulos trouxe o renascimento da Índia moderna em todos os campos. Swami Vivekananda deu-lhe o nome de Nivedita, que significa "Dedicada a Deus", quando a iniciou com os votos de celibato, Brahmacharya, em 1898. A contribuição da Irmã Nivedita para o Renascimento indiano é muito valiosa.

 

Ela tinha um espírito heróico e inspirou os líderes nacionalistas da Índia. Por esta razão, o governo britânico tinha um olhar de suspeita sobre ela. Ela tinha uma tremenda força de vontade e energia, mas sendo uma dama estrangeira, seu físico não podia suportar o ambiente indiano. Ela esteve em uma região montanhosa chamada Darjeeling, onde desenvolveu problemas de saúde e faleceu prematuramente em 13 de outubro de 1911, aos 44 anos. Ela foi sepultada lá. Seu epitáfio diz: "Aqui jaz a irmã Nivedita, que deu tudo para a Índia". Em seu triste falecimento, a Santa Mãe derramou lágrimas e disse: “Que devoção sincera teve Nivedita ! Ela nunca considerou nada demais que pudesse fazer por mim. Ela muitas vezes vinha até mim à noite. Vendo que a luz atingia meus olhos, ela colocava uma sombra de papel ao redor da lâmpada. Ela se prostrava diante de mim com grande ternura e pegava o pó dos meus pés com seu lenço. Senti que ela hesitava até mesmo em tocar meus pés.” Enquanto as devotas expressavam sua tristeza pela morte da Irmã Nivedita, a Santa Mãe disse: “Todos os seres choram pela perda de uma grande alma”. Poucos dias após a morte de Nivedita, a irmã Christine e a irmã Sudhira, uma colaboradora, vieram ver a Santa Mãe da escola de Nivedita. Lembrando o relacionamento próximo entre Nivedita e Christine, a Santa Mãe disse a Sudhira: “Ah, elas viviam juntos. Agora vai ser difícil para ela viver sozinha.” Ela então consolou Christine: “Nossos corações estão chorando por ela e, sem dúvida, seu sentimento será mais intenso, minha filha. Que pessoa maravilhosa ela era ! Tantas pessoas agora estão chorando por ela.” Dizendo isso, a Santa Mãe chorou. Então ela perguntou a Christine sobre as atividades da escola.

 

Um dia a Santa Mãe estava descansando em sua cama e várias devotas estavam perto dela. Alguém começou a falar sobre Jesus Cristo. A Mãe levantou-se e saudou o Senhor Jesus com as mãos postas. Ela então disse: “Ouvi muitas coisas de Nivedita sobre Jesus Cristo. Ela leu muitas histórias bonitas sobre ele para mim. Ah, Jesus veio para libertar as pessoas desse mundo e quanto sofrimento ele teve que passar. Ele suportou tudo com alegria. Apesar de todas essas perseguições, ele amava as pessoas e as perdoou incondicionalmente. Seu próprio discípulo o traiu. Ah, eles o mataram com pregos nas mãos, pés e peito. Apesar daquela terrível tortura e dor, ele os perdoou sem ressentimento. Ele orou a Deus para não se ofender com o que eles fizeram. É possível que os seres humanos tenham tanto amor, poder de tolerância e perdão ? Quem pode suportar este caminho além de Deus ? Deus veio como Jesus para ensinar o amor divino às pessoas do mundo. Veja Nivedita, uma menina ocidental que veio para o nosso país e trabalhou feliz, também suportando tanto desconforto. Ela tentou educar nossos filhos. Você vê, minha filha Nivedita tinha uma mente tão maravilhosa que assumiu a responsabilidade de ensinar nossas meninas em seus próprios ombros porque seu guru Naren (Swami Vivekananda) queria e pediu que ela o fizesse. Então, eu digo que, exceto o Mestre, ninguém sabe ou entende como, quando, o que ou por quem ele faz trabalhar”. 

 

A senhorita Laura F. Glenn ouviu as palestras de Swami Vivekananda em Nova York e se tornou uma grande seguidora da Vedanta. Swami Vivekananda deu uma série de palestras espirituais para um pequeno grupo de fiéis seguidores no Thousand Island Park e a senhorita Ellen Waldo as transcreveu. Mais tarde, ficaram conhecidas como as “Conversas Inspiradas”. A senhorita Laura Glenn as editou. Anos depois, Laura Glenn tornou-se monja e ingressou no Vedanta Center de Boston. Lá ela obteve votos monásticos de Swami Paramananda, um discípulo de Swami Vivekananda e veio a ser conhecida como Irmã Devamata. Ela visitou a Índia em 1909 e encontrou a Santa Mãe em Calcutá muitas vezes. Em seu livro, “Dias em um mosteiro indiano”, ela escreveu suas memórias da Santa Mãe. A Santa Mãe gostava muito de Devamata e mais tarde ditou muitas cartas para ela. Devamata escreveu sobre a Santa Mãe: “Não tínhamos uma linguagem comum, mas quando não havia ninguém para interpretar para nós, ela falava aquela linguagem profunda e sem palavras e nunca deixamos de nos entender”. Devamata ficou com Nivedita e Christine e visitou a Santa Mãe todos os dias. Quando a Santa Mãe abençoou Devamata pela primeira vez, Devamata contou sua experiência: “Uma fonte de nova vida parecia borbulhar do mais íntimo do meu coração e inundar meu ser”.

 

Um dia, um desejo brilhou em sua mente de prestar um serviço pessoal à Santa Mãe acariciando seus pés. Imediatamente a Santa Mãe chamou Devamata para se aproximar dela e permitiu que ela massageasse seus pés, porque ela tinha artrite. Devamata costumava visitar a Santa Mãe pela manhã e prestar-lhe algum serviço pessoal. Uma vez ela limpou as vidraças empoeiradas com sabão. A Santa Mãe ficou feliz com isso e mostrou aos visitantes. Aqui está um trecho do livro de memórias de Devamata: “Inumeráveis foram os devotos que se reuniram aos pés da Santa Mãe para ansiar por suas bênçãos e aprender com ela. Limites geográficos, casta ou credo não existiam para ela. A mesma terna acolhida aguardava todos os que a procuravam, fossem do Oriente ou do Ocidente. Todos eram igualmente seus filhos. O dela era um coração de mãe abrangente que se envolvia em amor por cada filho nascido de mulher, e sua família era a raça humana. Ela nunca ensinou, raramente aconselhou. Ela apenas viveu. E quem pode dizer quantas vidas foram purificadas e exaltadas por esse viver santo ? Sempre havia nela uma alegria suave e um senso de humor à espreita que tornava possível conversar com ela sobre qualquer coisa. A menor preocupação era de seu interesse e ela podia se perder em brincadeiras infantis com tanto entusiasmo quanto a sobrinha de oito anos, de nome Radhu, que morava com ela. Ainda posso ver sua grande diversão com um jack-in-the-box (brinquedo que vem em uma caixa fechada, quando você abre a tampa, o brinquedo pula da caixa) que trouxe para a sobrinha de uma loja inglesa. Cada vez que saía com o som familiar, ela repetia o som, rindo com vontade. Outro dia, quando entrei, encontrei-a empenhada em colar pequenas contas de vidro e Radhu exclamou: “Meu bebê Krishna não tinha joias como as imagens nos templos têm”. Não havia zombaria de brincadeira na maneira da Mãe. Mesmo este pequeno brinquedo era um símbolo sagrado da Divindade, e ela o decorou com a mesma devoção grave que uma freira devota poderia vestir o Menino Jesus para uma Manjedoura de Natal. Aqueles que tiveram a rara bênção de viver com a Santa Mãe aprenderam que a religião era uma coisa doce, natural, alegre; que pureza e santidade eram realidades tangíveis; que o odor da santidade era literalmente um doce perfume sobrepondo e destruindo a impureza do egoísmo material. Compaixão, devoção, união com Deus eram sua própria natureza; mal se sabia que ela os possuía. Foi através da bênção reconfortante de uma palavra ou toque que se sentiu sua presença.” Jyotirmayi Basu, uma discípula da Santa Mãe, relembrou sobre ela: “Devamata, uma mulher americana, costumava visitar a Santa Mãe na Casa Udbodhan (Calcutá) todos os dias às 7:00 da manhã. Ouvimos da Mãe que ela teve uma visão do Mestre na América e mais tarde o reconheceu, em uma foto mostrada a ela por Swami Vivekananda. Ela morava no número 47 da rua Bosepara Lane, em Baghbazar. Devamata costumava meditar no quarto da Mãe e lágrimas escorriam de seus olhos por devoção. Era difícil acreditar sem ver aquelas lágrimas maravilhosas. A Mãe muitas vezes se sentava conosco em seu quarto e alimentava Radhu antes de sair para a escola. Um dia, quando terminou a refeição de Radhu, a Mãe começou a limpar aquele lugar e nós estávamos observando. Mas por devoção exuberante, Devamata correu para ela, dizendo, ‘Matadevi, Matadevi’, enquanto ela pegava a xícara e o prato de Radhu e limpava o chão. Vendo que o pano de Devamata havia tocado o prato contaminado, Nalini, sobrinha da Santa Mãe, riu alto. Imediatamente a Mãe fez-lhe sinal com os olhos para que se calasse. Quando Devamata foi ao banheiro com aqueles pratos sujos, a Mãe disse a Nalini: ‘Aquela menina não conhece nossa língua e costumes e você riu alto ! Ela poderia pensar que tinha feito algo errado. Pensando nisso, mais tarde ela vai sentir dor.”


(Continuaremos a narração da vida da Santa Mãe Sri Sarada Devi no próximo post)

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