Swami Trigunatitananda nasceu em uma família aristocrática da Bengala Ocidental em 1865. Seu nome pré-monástico era Sarada Prasanna, que significa literalmente "presenteado com a graça de Sarada". Ele recebeu esse nome porque seus pais acreditavam que ele nasceu para eles pela graça da Divina Mãe Durga, cujo outro nome é Sarada. Como estudante, ele mostrou grande brilho. Por seu comportamento encantador e maneiras doces, ele se tornou querido por todos. Quando era um menino de quatorze anos, ele apareceu para o exame de admissão da Instituição Metropolitana de Calcutá. Lá, Mahendra Nath Gupta ou M, o cronista do “Evangelho de Sri Ramakrishna” era o diretor. Todos esperavam que Sarada passasse no exame com grande distinção, mas o destino estava contra ele. Sarada perdeu seu relógio de ouro no segundo dia de exames. Este incidente o aborreceu muito. Como resultado, ele passou na segunda divisão, para grande decepção de todos. Isso deixou Sarada muito aflito. Mahendra Nath amava muito Sarada. Um dia, encontrando seu garoto favorito abatido, ele o levou até Sri Ramakrishna. Assim, uma coisa insignificante como a perda de um relógio de ouro tornou-se a causa indireta de grandes eventos futuros. Uma alma pura como Sarada foi imediatamente atraída por Sri Ramakrishna. Ele começou a ir até ele sempre que encontrava tempo. Desde sua infância, Sarada tinha uma rara disposição religiosa e encontrava prazer na adoração etc. Seu pai também estimulava esse traço de Sarada. Sarada começou a ler as escrituras sagradas. Tão retentiva era sua memória que, mesmo muito jovem, aprendeu de cor mais de cem hinos em sânscrito. O contato com Sri Ramakrishna estimulou ainda mais seu espírito religioso. Sri Ramakrishna também manteve os olhos atentos ao treinamento de seu jovem devoto. Depois do falecimento de Sri Ramakrishna, o mosteiro de Baranagore foi estabelecido por Naren, mais tarde Swami Vivekananda. Sarada ingressou no mosteiro. Os jovens discípulos de Sri Ramakrishna fizeram os votos monásticos cerimonialmente e mudaram seus antigos nomes. Sarada foi chamado de Swami Trigunatitananda. Swami Trigunatitananda, como mendicante, viajou para muitos centros de peregrinação, incluindo o sagrado Monte Kailas e Manas Sarovar. O belo cenário natural que ele viu lá recompensou amplamente as privações que ele enfrentou durante aquela peregrinação. Swami Trigunatitananda tinha um espírito muito ousado e aventureiro. Uma vez, em uma noite de luar, ele estava cruzando um rio pulando sobre as rochas. Quando ele estava na metade do caminho, nuvens espessas cobriram a lua e ele estava prestes a se afogar naquele rio que jorrava água gelada. Ele começou a cantar o nome de Sri Ramakrishna. De repente, ele ouviu uma voz dizer: “Siga-me”, e ele a seguiu. Logo ele estava fora de perigo, tocando o solo firme da outra margem. Nesse momento, as nuvens se dispersaram e a lua resplandecente voltou a brilhar. Ele procurou a pessoa que o ajudou. Mas não consegui encontrá-la. Desta maneira, sua vida esteve em perigo várias vezes durante as peregrinações. Mas todas as vezes ele foi salvo misteriosamente. Essas experiências aprofundaram ainda mais sua fé em Sri Ramakrishna. Depois de terminar as peregrinações, Swami Trigunatitananda permaneceu em Calcutá por algum tempo e usou o seu tempo em estudos intensos. Durante essa época, ele desenvolveu uma fístula que requeria uma operação cirúrgica. Ele teve que se submeter a uma cirurgia para isso. A operação continuou por meia hora inteira e a incisão tinha cerca de 15 centímetros de profundidade. Foi surpreendente que ele tenha suportado as fortes dores da cirurgia sem qualquer anestesia. Assim que ele se recuperou, mergulhou novamente nos estudos. Ocasionalmente, ele tinha aulas sobre as escrituras em diferentes lugares. Em 1897, quando o distrito de Dinajpur estava nas garras de uma terrível fome, ele foi até lá e organizou serviço do socorro. Nessa ocasião, seu maravilhoso espírito de serviço tornou-se evidente. Ele trabalhou dia e noite na distribuição de alimentos às pessoas famintas. Swami Trigunatitananda tinha uma estranha capacidade com relação à comida. Às vezes, ele podia comer quantidades extraordinárias e também jejuar por muitos dias. Sobre isso, Swami Premananda disse: “Ele tinha um poder oculto. Uma vez eu tornei mais espesso cerca de dois galões de leite e servi a quantidade inteira para ele. Ele bebeu tudo sem parar. Em outra ocasião, ele ficou sob uma árvore de Bel em Belur Math por vários dias, comendo apenas uma banana por dia.” Vendo sua capacidade de comer bem, a mãe de Swami Premananda comentou: “É surpreendente como Sarada come! Ele viajou por muitas montanhas e aprendeu muitos mantras, feitiços mágicos. Assim, ele pode fazer desaparecer qualquer quantidade de comida. Do contrário, não é possível para um ser humano comer tanto.” Swami Trigunatitananda era incrédulo sobre a existência de fantasmas. Alguém lhe contou sobre uma velha casa abandonada próxima do Mosteiro de Baranagore, onde ele poderia ver um fantasma à meia-noite. Sem contar a ninguém, ele foi até lá antes da meia-noite e esperou pelo fantasma. De repente, ele viu uma luz fraca aparecer no canto da sala. A luz ficou mais forte até que, no centro da luz, apareceu um olho. Este se aproximou dele com uma maldade fatal. Ele estava prestes a desmaiar quando, de repente, Sri Ramakrishna apareceu. Segurando sua mão, o Mestre disse: “Meu filho, por que você está se arriscando tão estupidamente com uma morte certa? É suficiente para você manter sua mente fixa em mim.” Com essas palavras, Sri Ramakrishna desapareceu. Swami Trigunatitananda saiu da casa com sua curiosidade sobre fantasmas satisfeita para sempre. Prabuddha Bharata e Vedanta Kesari, ambas revistas em inglês foram iniciadas pela inspiração de Swami Vivekananda. Swami Vivekananda expressou seu desejo de começar uma revista no idioma bengali para também divulgar a mensagem da Vedanta e os ensinamentos universais de Sri Ramakrishna. Para este propósito, foi comprada uma imprensa. E Swami Trigunatitananda foi encarregado de todo o trabalho. Swami Vivekananda chamou a revista de “Udbodhan”, “O Despertar”. Nesse sentido, Swami Trigunatitananda teve que se submeter a um trabalho hercúleo. Na verdade, nenhum trabalho lhe dava maior prazer do que servir aos outros. Diz-se que uma vez um funcionário da Imprensa Udbodhan contraiu cólera. Swami Trigunatitananda tomou todas as providências para seu tratamento e ele mesmo atendeu o paciente. O pobre funcionário ficou pasmo com o seu serviço. Quando alguém relatou tudo isso a Swami Vivekananda, ele disse: “Você acha que esses filhos monásticos de Sri Ramakrishna nasceram simplesmente para se sentar para meditar sob as árvores acendendo fogueiras, dhuni? Sempre que algum deles começar algum trabalho, as pessoas ficarão surpresas ao ver sua energia. Aprenda com eles como trabalhar... Bem, o Mestre é o nosso centro. Cada um de nós é um raio desse centro de luz.” Swami Trigunatitananda também serviu à Santa Mãe Sarada Devi, que vinha da aldeia Jayrambati e permaneceria na Casa de Udbodhan. Naqueles dias, as instalações de transporte eram precárias. De Calcutá, certa vez ela estava voltando para sua aldeia em um carro de bois. Já passava da meia-noite. Swami Trigunatitananda caminhava na frente do carro de bois como seu guardião com uma vara pesada em seu ombro. De repente, ele viu uma ampla fenda na estrada feita por uma enchente. Imediatamente ele percebeu que, quando a carroça chegasse à abertura, seria derrubada ou receberia uma sacudida terrível. Isso não só perturbaria o sono da Santa Mãe, mas poderia até machucá-la. Imediatamente ele colocou seu grande corpo na fenda e pediu ao cocheiro que passasse a carroça por cima dele. Felizmente, a Santa Mãe acordou antes que isso pudesse acontecer. Ela repreendeu seu discípulo por sua natureza excessivamente zelosa. Como resultado do cuidado vigilante e do trabalho árduo de Swami Trigunatitananda, a revista Udbodhan estava bem estabelecida. Neste momento, Swami Vivekananda pediu-lhe que fosse para São Francisco, na América, para substituir ao Swami Turiyananda, que estava retornando para a Índia. Swami Trigunatitananda obedecia prontamente a qualquer desejo de Swami Vivekananda como uma ordem. Imediatamente, ele concordou em ir para o Ocidente, por mais que isso pudesse interferir em seu modo de vida indiano. Infelizmente, o falecimento repentino de Swami Vivekananda em 1902 foi um grande choque para todos. No entanto, Swami Trigunatitananda navegou para a América alguns meses após este triste evento e chegou a São Francisco em 1903. Quando Swami Trigunatitananda chegou em São Francisco, havia um grupo de amigos leais e estudantes da Vedanta para saudá-lo. Ele foi levado imediatamente para a casa do Dr. M. H. Logan, o Presidente da Sociedade Vedanta de São Francisco. Algumas semanas depois, ele foi para a casa do Sr. e da Sra. C. F. Peterson, que se tornou seu quarte general. A notícia de que um discípulo direto de Sri Ramakrishna tinha vindo para assumir o trabalho se espalhou por toda parte e muitos começaram a vir para encontrá-lo. Aulas eram ministradas regularmente sobre o Gita e os Upanishads; e as palestras eram realizadas aos domingos. Swami Trigunatitananda sentiu a necessidade de um edifício próprio para a Sociedade Vedanta de São Francisco. Para ele, pensar era agir, e um comitê foi imediatamente formado para encontrar um local adequado. Logo uma reunião de todos os membros foi convocada, os fundos foram rapidamente levantados e um terreno foi comprado. Os planos para o que seria conhecido como o primeiro templo hindu em todo o mundo ocidental foram traçados. Embora fosse um templo hindu, era uma mistura de diferentes estilos arquitetônicos. A chamada para contribuições foi lançada. Ricos e pobres, velhos e jovens, vieram com suas ofertas e em pouco tempo foram coletados fundos suficientes para iniciar o trabalho de construção. Em San Francisco, a cidade ao lado da Golden Gate, um centro permanente foi estabelecido. Esse foi um canal pelo qual a Verdade poderia fluir para matar a sede de milhares de almas cansadas do mundo com suas águas vivificantes. Com relação ao futuro do Templo, Swami Trigunatitananda disse: “Acredite em mim, acredite em mim, se houver o menor traço de egoísmo na construção deste Templo, ele cairá; mas se for obra do Mestre, permanecerá.” O templo foi dedicado para causa da humanidade em 1906. Pouco depois disso, uma idéia de iniciar um mosteiro em conexão com a Sociedade Vedanta, ocorreu a Swami Trigunatitananda. Havia vários jovens que assistiam às palestras e reuniões da Sociedade que tinham uma inclinação para viver a vida de noviços, Brahmacharins. Cerca de dez deles tornaram-se internos do mosteiro. Esses jovens foram submetidos a uma disciplina rígida. Eles tinham que se levantar cedo pela manhã, meditar regularmente e fazer todos os deveres domésticos, como limpar, varrer etc. Swami Trigunatitananda os instruiu de que todo trabalho relacionado com o Templo era sagrado; e, se realizado com o espírito correto, purificaria suas mentes e ajudaria a avançar em sua meditação. Swami Trigunatitananda gostava de máximas poderosas. Quando alguém recitou o grande lema da República americana, “Vigilância eterna é o preço da liberdade”, ele o fez repetir. Alguns dos lemas pendurados nas salas do mosteiro eram: “Viva como um eremita, mas trabalhe como um cavalo”; “Faça isso agora”; “Vigiai e orai”. Outro que ele citava constantemente era: “Faça ou morra, mas você não morrerá”. Swami Trigunatitananda acreditava completamente no canto devocional como um exercício espiritual. De manhã cedo, ele freqüentemente levava os rapazes a cobertura do mosteiro para cantar hinos e cânticos devocionais. A meia milha de distância ficava a baía de São Francisco. Às vezes, Swami Trigunatitananda levava os jovens lá para o canto matinal e meditação. A vida de Swami Trigunatitananda foi um exemplo para os outros em todos os aspectos. Um grande disciplinador da mais alta ordem, foi o exemplo mais brilhante do que deveria ser uma vida disciplinada. Ele sempre ia para a cama mais tarde do que os outros; e ainda ele era o primeiro a se levantar. Ele era o modelo de pontualidade e regularidade. A vida de Swami Trigunatitananda foi um longo sacrifício. Aqueles que tiveram o privilégio de estar em sua presença descobriram que suas dúvidas e problemas derretiam como a neve diante do sol. Ele verdadeiramente irradiava santidade; pois ele sempre viveu na consciência da Mãe Divina. Cada momento de contato com ele foi de crescente educação, consciência e supraconsciência. Swami Trigunatitananda também começou um convento ou comunidade religiosa como uma sociedade separada. Isso foi devido às súplicas fervorosas de algumas discípulas que desejavam viver uma vida disciplinada sob suas instruções espirituais pessoais. Elas estavam cheias de zelo fervoroso e viveram a vida com a maior sinceridade. Elas cozinhavam e cuidavam da casa no espírito de adoração e serviço à humanidade. E fielmente aderiram às regras estabelecidas por Swami Trigunatitananda com relação à rotina diária e conduta espiritual. Swami Trigunatitananda esperava que o convento fosse a semente de uma vida espiritual desperta entre as mulheres americanas; e que grandes resultados adviriam desse começo aparentemente pequeno. Em 1909, Swami Trigunatitananda começou uma revista mensal, chamada ‘voz da Liberdade’. Com isso, ele tentou alcançar muitas almas que não podiam assistir às suas palestras ou que estavam muito longe para ir até elas. Logo a Voz da Liberdade foi um sucesso consagrado com uma lista crescente de amigos e assinantes interessados. Todos os anos, Swami Trigunatitananda conduzia um grupo selecionado de estudantes ao “Shanti Ashrama”, um centro de retiro, no Vale de Santo Antonio, fundado por Swami Turiyananda. Situado em um local pitoresco, o Shanti Ashrama, lembra os antigos Ashramas dos santos indianos, Rishis, nos Himalaias; e a própria atmosfera do lugar era espiritualmente revigorante. Naquela atmosfera tranquila, longe das distrações da vida da cidade, podia-se ver mais visivelmente como a vida de Swami Trigunatitananda era uma expressão da espiritualidade mais elevada. Praticamente o dia todo os residentes estavam ocupados em oração, meditação, frequentando as aulas das escrituras e assim por diante. Um dia da semana era separado como um dia de solidão individual e jejum, como um ascetismo voluntário. Para alguns vieram revelações e experiências que silenciaram as dúvidas, satisfizeram anseios ardentes e deram novo ímpeto às suas aspirações espirituais. Às vezes, durante as noites de lua cheia, Swami Trigunatitananda acendia a fogueira sob o céu aberto, chamado de Dhuni. Os alunos sentavam-se ao redor do fogo e passavam a noite inteira em práticas espirituais. Essa foi uma das experiências valiosas para cada aluno. Aqueles que tiveram o privilégio de assistir às aulas do Shanti Ashrama dificilmente poderiam esquecer sua experiência única lá. Swami Trigunatitananda costumava dizer: "Aquela mente que está apegada a mais de uma coisa nunca pode alcançar a meta." “Aprenda a ver Deus em tudo. Cubra tudo com Deus e sua mente pensará somente Nele.” Swami Trigunatitananda sofria de reumatismo crônico e nefrite. Com o passar dos anos, seus problemas físicos eram tão complicados que ele costumava dizer: “Este corpo é mantido unido apenas pela força da vontade; quando eu o permitir ir, ele meramente se despedaçará.” Tão resoluta e determinada era sua vontade, que poucos conheciam a verdadeira condição de sua saúde. Mas seu corpo estava gradualmente se deteriorando com os pesados fardos que lhe eram impostos. Era dezembro de 1914, o Natal havia sido celebrado com maravilhosa solenidade no Templo Hindu de São Francisco. Depois de três dias, Swami Trigunatitananda estava realizando um culto dominical. Em um ataque de depressão e com um estado de espírito desequilibrado, um jovem jogou uma bomba no púlpito, causando uma explosão. Foi descoberto que o próprio jovem havia sido morto; e Swami Trigunatitananda recebeu ferimentos graves. No caminho para o hospital, em meio a uma dor terrível, Swami Trigunatitananda perguntou sobre aquele jovem: “Onde está Louis, pobre sujeito?” Algum tempo atrás, Louis foi aluno de Swami Trigunatitananda. Sua mente estava cheia de piedade, mesmo por aquele que cometera tal ato precipitado. Embora cada momento em que acordasse fosse de intenso sofrimento, nenhuma palavra de reclamação jamais saiu de seus lábios. De vez em quando, ele dava instruções a um discípulo após outro para ser fiel à causa até o final. Mesmo até seu último suspiro, seus pensamentos nunca foram para si mesmo, mas para o trabalho e a missão do Mestre. Na tarde de 9 de janeiro de 1915, Swami Trigunatitananda disse a um jovem discípulo que ele deixaria seu corpo no dia seguinte, 10 de janeiro. Era o aniversário de Swami Vivekananda. Como ele já havia dito, ele entregou seu corpo naquela noite e entrou na morada de Sri Ramakrishna. Um discípulo de Sri Ramakrishna se sacrificou enquanto servia no Ocidente. Mas o trabalho que ele começou está se espalhando e se expandindo continuamente. |