OS APÓSTOLOS DE SRI RAMAKRISHNA--PARTE-2

06.10.23 11:16 PM By Curitiba Centro Ramakrishna Vedanta

SWAMI ABHEDANANDA

Compilador—Swami Prajnatmananda

Publicado em 8 de novembro de 2020 

Swami Abhedananda era popularmente conhecido como Kālī Mahārāj. Ele nasceu em Calcutá no ano de 1866. Seu nome de infância era Kali Prasad Chandra. Desde a infância, junto com seus estudos acadêmicos, ele estudou a língua sânscrita. Ele também deu a devida importância à sua cultura física. Como resultado, ele desenvolveu uma bela aparência.

 

Seus talentos eram muitos. Ele conseguia desenhar tão bem que seu professor de desenho profetizou que ele se tornaria um grande artista, caso se convencesse a dedicar-se a arte. Em vez disso, Kali Prasad preferiu se tornar um filósofo ou um santo como Sri Shankaracharya. Ele foi muito inspirado pela vida e ensinamentos deste grande expoente da Vedanta. Por isso, ele disse ao seu professor de desenho: “Um pintor estuda a superfície das coisas, mas um filósofo vai abaixo da superfície e estuda as causas das coisas. Então, eu quero ser um filósofo.”

 

Kali Prasad também estava profundamente interessado em Raja Yoga ou Kundalini Yoga. Ele assistiu a uma série de palestras sobre Raja Yoga, proferidas por estudiosos versados daquele período. Eles podiam explicar os Aforismos do Yoga de Patanjali. Mas não conseguiam ensinar os aspectos práticos do Yoga e dar-lhe a autorrealização. Então, sua busca desesperada por um verdadeiro mestre espiritual o levou a Sri Ramakrishna no templo de Dakshineshwar, Calcutá. Kali Prasad fez sua primeira pergunta a Sri Ramakrishna desta forma: “Tenho o desejo de aprender Yoga. Você poderia me ensinar?

 

Sri Ramakrishna respondeu: É um bom sinal de que você deseja aprender ioga durante a juventude. Você foi um Iogue em sua vida anterior. Faltou um pouco para alcançar perfeição. Este será seu último nascimento. Sim, vou te ensinar ioga.” Ele pediu a Kali Prasad que esticasse sua língua. Então escreveu algo sobre ela e pediu a ele para meditar sobre a Divina Mãe Kali. Kali Prasad entrou em meditação profunda e perdeu a consciência externa. Ele não soube quanto tempo permaneceu naquele estado. Sri Ramakrishna tocou seu peito e o trouxe de volta ao plano normal. Kali Prasad mais tarde narrou que ele sentiu uma alegria interior indescritível naquela condição. Sri Ramakrishna ficou muito satisfeito em ver a experiência espiritual de Kali Prasad logo neste primeiro encontro com ele. Ele também lhe deu muitas instruções sobre meditação.

 

Daí em diante, Kali Prasad continuou suas práticas espirituais sob a orientação de Sri Ramakrishna. Uma das instruções foi a que ele havia recebido de seu guru Totapuri, “Tota costumava dizer que se um pote de água de latão não é limpo todos os dias, manchas se acumulam nele. Da mesma forma, se a mente não for limpa pela meditação todos os dias, as impurezas se acumulam nela.” Este ensinamento impressionou imensamente Kali Prasad. Um dia, durante a meditação, ele teve uma visão de muitos deuses e deusas - Krishna, Kali, Cristo e outros - entrando um por um no corpo luminoso de Sri Ramakrishna. Ele correu até o Mestre e narrou isto a ele. Em resposta, o Mestre disse: “Ah, você viu Vaikuntha (a morada do Deus Vishnu)! Doravante você não terá mais essas visões. Agora, você elevou-se ao estado sem forma.” A partir de então, sua mente costumava se fundir no pensamento do aspecto impessoal de Deus, o Absoluto Brahman. A partir de então, ele estava convencido de que Sri Ramakrishna era uma encarnação de Deus. Com base nessa experiência, ele mais tarde compôs vários belos hinos. Um desses hinos é usado para visualizar Sri Ramakrishna durante a adoração formal realizada em nossos templos, dhyāna mantra (Hrudaya Kamala madhye rajitam...):

 

 

 “Ó Ramakrishna, você é o Ser Supremo sem qualquer mancha. Você está sempre resplandecente e imutável no lótus do nosso coração. Você é o Unificador que está além das diferenças de existência e não-existência. Você está além dos aspectos bons e ruins da natureza. Você é de uma forma sempre bem-aventurada."

 

Ele também compôs o famoso hino “prakrutiīm paramām” sobre a Santa Mãe Sarada Devi. Sempre que cantamos este hino e contemplamos sobre o seu significado, ficamos fascinados pelos profundos sentimentos humanos e espirituais nele expressos. Ele recitou este hino na frente da Santa Mãe. Ao ouvir este hino, ela entrou em êxtase e o abençoou dizendo: "Que Saraswati, a deusa da sabedoria, habite em sua língua para sempre."

 

O zelo de Kali Prasad em aprender Yoga uma vez o colocou em um verdadeiro apuro. Ele ouviu que um grande Hatha Yogi, especialista em práticas de ioga, estava morando em uma caverna nas Colinas Barabar, perto de um lugar sagrado chamado Gaya. Ele imediatamente correu para aquele lugar sem contar a ninguém. Embora os aldeões o tivessem proibido, ele encontrou-se com aquele iogue. Mas logo descobriu que o iogue não era perfeito. Ele percebeu que havia cometido um grande erro ao ir até um falso Hatha Yogi para obter instruções espirituais. Quando ele tentou escapar, o iogue e seus discípulos não o deixaram ir. De alguma forma ele escapou; caso contrário, ele teria sido ferido por eles. É por isso que devemos ter muito cuidado ao escolher o guru espiritual. Após este incidente, sua devoção e fé em Sri Ramakrishna aumentaram ainda mais.

 

Certa vez, Naren, mais tarde Swami Vivekananda, queria testar seu poder de transmitir experiências superconscientes. Ele disse a Kali: “Por favor, toque-me por um momento” e sentou-se para meditar. Um pouco depois, outro discípulo entrou na sala e encontrou Narendra em meditação profunda e Kali sentado ao seu lado, tocando o joelho direito de Narendra. A mão de Kali tremia rapidamente. Depois de alguns minutos, Narendra abriu os olhos e perguntou: "Como você se sentiu?" Kali respondeu: “Senti como se uma corrente estivesse entrando em mim; assim como quando se segura uma bateria elétrica, sua mão treme o tempo todo. Logo Kali entrou em meditação profunda e perdeu a consciência externa. Seu corpo ficou rígido e seu pescoço e cabeça um pouco curvados. Sri Ramakrishna chamou Naren e disse: “Bem, você está desperdiçando seu poder antes de acumular o suficiente. Reúna-o primeiro e então você entenderá quanto deve gastar e de que maneira. A Mãe Divina o informará. Você sabe o grande dano que você causou a aquele menino ao infundir sua ideia nele? Ele vinha seguindo uma linha particular há muito tempo. Tudo está estragado agora. Bem, o que está feito está feito. Nunca mais faça isso. No entanto, o menino é afortunado.” Narendra ficou pasmo e pediu desculpas. De acordo com Sri Ramakrishna, Swami Abhedananda nasceu do elemento de Sri Krishna e é por isso que ele era cheio de amor e devoção. Mas esse incidente transformou Kali predominantemente em um advaitista, um homem de idéias monísticas.

 

Após o falecimento de Sri Ramakrishna, Kali ingressou no Mosteiro de Baranagore, o primeiro mosteiro da Ordem Ramakrishna. Sob a liderança de Narendra, eles mergulharam em estudos das escrituras e meditação. Kali ganhou os apelidos de “Kali Tapasvi”, “Kali o Meditador” e “Kali Vedantista”, “Kali o Filósofo”. Porque ele estava sempre imerso em meditação profunda ou no estudo sério das escrituras. Kali tinha grande admiração e devoção por Buda. Essas palavras de determinação de Buda o inspiraram muito: “Deixe meu corpo secar neste assento; que minha pele, carne e ossos sejam dissolvidos; sem ter aquela Iluminação que é difícil de alcançar mesmo em eras, não vou deixar o corpo se mover deste assento.”

 

 

Sri Ramakrishna havia ordenado simbolicamente alguns de seus discípulos no monasticismo, distribuindo-lhes as vestes ocres. Kali conheceu um monge hindu tradicional e aprendeu os versos esotéricos, mantras, relacionados à ordenação à vida monástica, Sannyāsa. Ele os compartilhou com seus irmãos discípulos. Após a morte de Sri Ramakrishna, os dezesseis discípulos monásticos realizaram um sacrifício especial ao fogo chamado Virajā Hōma, com os versos compartilhados por Kali. Durante esta cerimônia, eles assumiram novos nomes monásticos de acordo com a tradição. Kali se tornou Swami Abhedananda, Narendra se tornou Swami Vivekananda e assim por diante. Alguém reclamou com Swami Vivekananda, seu líder, que Kali não estava fazendo os trabalhos braçais do mosteiro. Sobre isso, Swamiji respondeu: “Deixe pelo menos um dos irmãos ser um estudioso e eu mesmo lavarei os pratos”.

 

Swami Abhedananda viajou por toda a Índia, incluindo os templos sagrados dos Himalaias, descalço como um monge mendicante. Durante este período, ele realizou severas austeridades e teve muitas experiências espirituais. Lado a lado, ele manteve o estudo das escrituras sagradas. Uma vez ele foi infectado por vermes da Guiné em seus pés. Por causa disso ele teve que ser operado sete vezes. Como resultado, ele não conseguiu andar direito por vários meses.

 

Nesse ínterim, Swami Vivekananda representou o hinduísmo no Parlamento das Religiões, realizado em Chicago no ano de 1893. Isso o tornou mundialmente famoso como pregador da filosofia Vedanta. Seus irmãos discípulos na Índia ficaram muito felizes em saber de seu sucesso. Muitas vezes, o sucesso também traz no seu rastro, os caluniadores. Swami Vivekananda tornou-se alvo do ódio e inveja de alguns fanáticos. Eles tentaram denegrir a imagem de Swamiji dizendo que ele não era realmente um verdadeiro representante da religião hindu. Swami Vivekananda escreveu sobre sua situação precária na América para seus irmãos discípulos. Para contra-atacar isso, Swami Abhedananda organizou uma enorme Reunião Pública em agradecimento e reconhecimento pelo bom trabalho de Swami Vivekananda na América. A Resolução e as reportagens de jornal daquela reunião foram enviadas a Swami Vivekananda, que finalmente silenciou os caluniadores.

 

Após o sucesso na América, Swami Vivekananda pregou o Vedanta na Inglaterra também. De lá, no ano de 1896, ele convidou Swami Abhedananda para trabalhar no Ocidente. Ele também organizou a primeira palestra pública de Swami Abhedananda em Londres. Swami Abhedananda ficou nervoso e estava relutante em falar. Swami Vivekananda inspirou-o dizendo: “Confie no Mestre que sempre me deu força e coragem em todas as provações da minha vida... 'Da plenitude do coração fala a boca.'” Essas palavras confortaram Swami Abhedananda e deram-lhe coragem para fazer seu discurso inaugural na frente do público erudito da Sociedade Cristão-Teosófica em Bloomsbury Square, em Londres. Swami Vivekananda ficou muito satisfeito e declarou com alegria: “Mesmo se eu morrer neste plano, minha mensagem será transmitida por estes queridos lábios e o mundo a ouvirá.” Swami Abhedananda não desmentiu as esperanças de Swamiji. Depois de trabalhar na Inglaterra por um ano, ele se mudou para a América e viveu no Ocidente por 25 anos consecutivos e espalhou a mensagem da Vedanta nas pegadas de Swami Vivekananda. Através de sua eloqüência, exposição lúcida da filosofia Vedanta e sua profundidade de realização espiritual, causou uma profunda impressão em sua audiência. Swami Atulananda, um monge ocidental, assistiu a uma de suas palestras e escreveu sobre sua impressão da seguinte maneira: “O discurso foi lúcido, convincente e impressionante. Não havia muito floreio, não  muita eloqüência, quase nenhuma gesticulação. Foi uma exposição direta e bem fundamentada da filosofia Vedanta, entregue de uma maneira calma e digna... Jovem, alto, firme, bonito, o Swami tinha sua aparência a seu favor.” Swami Abhedananda permaneceu na Sociedade Vedanta de Nova York trabalhando muito. Ele também organizou um departamento de publicação e um boletim mensal foi lançado. Ele dormia muito pouco, pois passava a maior parte da noite escrevendo livros. A venda desses livros acabou tornando a Sociedade Vedanta auto-sustentável.

 

Diz-se que a calúnia e a difamação, a censura e a crítica são os ornamentos daqueles que pavimentam o caminho da Verdade. Swami Abhedananda não foi exceção. Junto com o sucesso, ele teve que enfrentar provações e tribulações no Ocidente. Ele confidenciou a um de seus discípulos sobre aqueles dias de luta: “Quando eu estava na América, tentava esquecer minhas dores e sofrimentos cantando e rezando ao Mestre. Eu passava meu tempo praticando japam e meditação, ou estudando livros. Não havia ninguém com quem eu pudesse abrir meu coração, então vivia em meu próprio mundo... Se uma pessoa defende a Verdade, ela encontra mais obstáculos; mas nunca se deve desistir da Verdade. Deve-se agarrar o poste (que é Deus) com força e energia. Você não vê como eu enfrentei as tempestades de obstáculos? Eu não me importo, mesmo se o mundo inteiro esteja contra mim. Eu estou agarrado ao Mestre.”

 

Swami Abhedananda viajou por toda a América e Europa e fez palestras sobre a Vedanta e tópicos relacionados em muitas instituições de prestígio. Ele também conheceu um grande número de estudiosos e cientistas eminentes no Ocidente. Assim, ele estabeleceu uma base sólida para o nosso Movimento Vedanta no Ocidente. Algumas citações de seus discursos nos dão um vislumbre da compreensão que ele tinha da Filosofia Vedanta: “A missão da Vedanta é estabelecer essa unidade e trazer harmonia, paz; tolerância entre as diferentes religiões, seitas, credos e denominações que existem neste mundo... Esta religião da Vedanta não se limita a nenhum livro em particular. Inclui todas as escrituras e todos os ensinamentos de todos os grandes profetas que floresceram em diferentes épocas, em diferentes países. É baseada na ciência, filosofia e lógica. Ela se harmoniza com as últimas conclusões da ciência moderna. Como a Verdade é o objetivo de toda ciência e filosofia, a mesma Verdade é o objetivo da Vedanta. A ciência moderna não descobriu nada que se oponha às conclusões da filosofia Vedanta. A Vedanta é uma filosofia e uma religião ao mesmo tempo. Ela reconhece cada um dos diferentes estágios, como dualismo, não-dualismo qualificado e não-dualismo. Resumindo, é a Religião Universal. Ela abraça o Cristianismo e indica sua base fundamental. Ela reconhece Jesus como o Filho de Deus.”

 

Swami Abhedananda conheceu o Prof. Max Muller, um grande Erudito Sânscrito e um conhecido orientalista. Ele cotava a visão do Prof. Max Muller sobre a filosofia Vedanta, “A Vedanta é a mais sublime de todas as filosofias e a mais reconfortante de todas as religiões. Tem espaço para quase todas as religiões; não, abrange todas elas. ”

 

É interessante notar que quando ele estava em Nova York, ele costumava dar aulas semanais para jovens. Ele ensinava-lhes valores morais através dos contos de fadas da antiga literatura sânscrita como “Panchatantra”, 'Cinco técnicas de fazer amigos', “Hitopadesha”, 'Livro de Bons Conselhos' que remonta ao século XIII AC (Ibid P.468) Além disso, ele também se entregava às atividades do dia-a-dia, como jardinagem, culinária etc.

 

Ele teve muitas interações com os Espíritas. Ele compareceu a um de seus acampamentos e falou sobre o assunto “Reencarnação” para uma audiência de 7.000 pessoas. Certa vez, ele participou de uma sessão espírita, onde viu um espírito digitar automaticamente em uma máquina de escrever. Em seu famoso livro “Life Beyond Death”, ele narrou algumas de suas experiências na comunicação com as almas que partiram. Finalmente, ele era da opinião que invocar espíritos que partiram em um médium vivo era um convite ao perigo. Porque, eles podem drenar a energia vital do médium. Os próprios espíritos estão em escravidão e não podem trazer liberdade e iluminação para os outros.

 

No ano de 1921, Swami Abhedananda voltou para a Índia para sempre. Após retornar à Índia, ele fundou o Ramakrishna Vedanta Math, em Calcutá. Mas permaneceu como administrador da Ramakrishna Math, Belur Math, até o fim. Ele também inspirou Frank Dvorak, um artista tchecoslovaco, a desenhar as pinturas a óleo de Sri Ramakrishna e Sri Sarada Devi. Estas pinturas originais estão colocadas no mosteiro Vedanta de Calcutá. Swami Abhedananda meticulosamente editou e publicou seus próprios trabalhos.  Agora eles estão em 11 volumes sob o título “As Obras Completas de Swami Abhedananda”.

 

Por ocasião das celebrações do centenário de Sri Ramakrishna, todas as rádios da Índia, em Calcutá, transmitiram a palestra de cinco minutos de Abhedananda sobre Ramakrishna na língua bengali. É a única voz gravada de um discípulo de Ramakrishna. É o testemunho verbal mais precioso sobre o Mestre. Entre os discípulos monásticos de Sri Ramakrishna, Swami Abhedananda sobreviveu pelo período mais longo. Ele faleceu no ano de 1939.

 

Concluirei citando o que Swami Abhedananda, na véspera de sua partida para a Índia, disse em São Francisco: “O Oriente e o Ocidente se unirão - tal é a vontade de Deus. Os sinais dos tempos me encorajam muito; e minha visita e prolongada permanência neste país me convenceram claramente de que é possível fazer do mundo nossa casa e amar a todos como irmãos e irmãs. O espírito de Deus está trabalhando em todos os lugares. Bem-aventurado aquele que vê a obra e realiza o Espírito Divino.” Quão verdadeiras são essas palavras de Swami Abhedananda?

 

 

 

 

 

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