ĪSHA UPANISHAD - PARTE 2

17.10.23 02:24 PM By Curitiba Centro Ramakrishna Vedanta

Autor: Swami Prajnatmananda

Publicado em 22/05/2021

Este artigo é a transcrição de uma palestra ministrada pelo Swami Prajnatmananda. 

Na parte anterior sobre o Isha Upanishad, ficamos sabendo que o tema principal desse Upanishad é ver o Deus Supremo em toda a criação. Havíamos abordado os três primeiros versículos. Nos próximos cinco versos, o Isha Upanishad descreve a natureza da Alma, o Atman, o princípio da consciência divina que está em todos nós. Cito o Upanishad:

अनेजदेकं मनसो जवीयो नैनद्देवा आप्नुवन्पूर्वमर्षत्‌।

तद्धावतोऽन्यानत्येति तिष्ठत्तस्मिन्नपो मातरिश्वा दधाति 

anejadekaṁ manaso javīyo nainaddevā āpnuvan pūrvamarṣat |

taddhāvato'nyānatyeti tiṣṭhat tasminnapo mātariśvā dadhāti ||

 

“O Ser é um. Ele está imóvel. No entanto, é mais rápido do que a mente. Movendo-se assim mais rápido, está além do alcance dos sentidos. Sempre estável, ultrapassa tudo que corre. Por sua mera presença, a energia cósmica (Sol) é capaz de sustentar as atividades dos seres vivos”. (4)

 

तदेजति तन्नैजति तद् दूरे तद्वन्तिके।

तदन्तरस्य सर्वस्यतदु सर्वस्यास्य बाह्यतः

tadejati tannaijati tad dūre tadvantike |

tadantarasya sarvasya tadu sarvasyāsya bāhyataḥ ||

 

“Ele se move. Não se move. Está longe. Está muito próximo. Está dentro de tudo isso. Está realmente fora de tudo isso”. (5)

Quando as ideias e as experiências espirituais são muito profundas, torna-se muito difícil explicar por meio de palavras. Então, só podemos expressá-los por meio de dicas e sugestões. Elas são enigmáticos como quebra-cabeças e ao mesmo tempo paradoxais. Mas, por meio dessas dicas, obtemos vislumbres da Alma e somos guiados para dentro. A Alma não tem gênero; e não podemos chamá-la de masculino ou feminino. Portanto, a Alma é chamada de "Isto". Tentamos explicar tudo e todos os acontecimentos nesta criação através do espaço, tempo e causalidade. Até a ciência moderna aceita essas três entidades para explicar os eventos. A Realidade Suprema parece ter se tornado essa criação mutável, mas transcende tudo isso. Podemos ir mentalmente para diferentes esferas ou céus desta criação. Qualquer que seja a nossa imaginação, descobrimos que nosso Eu Interior já está lá. Por trás deste 'homem, o conhecido' há sempre 'homem, o desconhecido'. Os Upanishads sempre tentam nos lembrar de nossa natureza infinita. Mesmo na ciência moderna, houve uma grande mudança na maneira de pensar. O cientista de hoje não vê mais a natureza como algo totalmente diferente de si mesmo. O observador e o observado, ambos são levados em consideração para obter a imagem total da Verdade Suprema. O sexto versículo diz o seguinte:

यस्तुसर्वाणिभूतानिआत्मन्येवानुपश्यति।

सर्वभूतेषु चात्मानंततो न विजुगुप्सते ॥ 

yastu sarvāṇi bhūtāni ātmanyevānupaśyati |

sarvabhūteṣu cātmāna tato na vijugupsate ||

 

"O Sábio, que percebe que todos os seres não são diferentes de seu próprio Ser, e de seu próprio Ser como o Ser de todos os seres, não odeia ninguém, em virtude dessa percepção". (6)

 

यस्मिन् सर्वाणि भूतानि आत्मैवाभूद् विजानतः।

तत्र को मोहः कः शोक एकत्वमनुपश्यतः ॥

yasmin sarvāṇi bhūtāni ātmaivābhūd vijānataḥ |

tatra ko mohaḥ kaḥ śoka ekatvamanupaśyataḥ ||

 

O sétimo versículo está na forma da seguinte pergunta: “Que ilusão, que tristeza pode haver para aquela pessoa sábia que realiza a unidade de toda a existência ao perceber todos os seres como seu próprio Ser ?”.

 

Este sétimo versículo canta a glória de uma pessoa que venceu o erro, a dor e a ilusão através da realização da unidade. O Conhecedor do Eu, percebe que ele é um com todos. O amor é uma força vinculativa, ao passo que o ódio procede de uma sensação de separação. Essa compreensão marca o ponto mais alto da excelência e espiritualidade humana. Essa visão mais elevada se torna a base do caráter mais elevado. Por meio dessa compreensão, o homem realiza sua unidade básica com todos os homens e com todos os seres. Alguém com essa percepção não pode odiar ninguém. O ódio surge de uma sensação de separação; e isso dá origem a todos os tipos de desejos egoístas. Desejo de esconder seus pensamentos e posses dos outros. Desejo de explorar ou superar outra pessoa, e assim por diante. Mas quando a sensação de separação desaparece, esses cálculos também desaparecem. Uma pessoa que tem essa percepção de unidade com toda a criação terá um sentimento de amizade universal e benevolência para com os outros seres; e uma sensação de bem-aventurança e paz dentro de si mesmo. A dor e a ilusão chegam até nós como resultado de nos identificarmos com esse corpo e mente limitados. Toda moralidade, toda ética e espiritualidade nos dizem que somos todos basicamente um. Jesus Cristo diz: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’ e os Upanishads acrescentam: "Pois você é um com seu vizinho". Com esse conhecimento, vêm também a moralidade e a ética, e descobrimos nosso verdadeiro parentesco com toda a natureza. ‘O conhecimento leva à unidade e a ignorância à diversidade’, diz Sri Ramakrishna. Portanto, o propósito do conhecimento espiritual é destruir essa ilusão de separação. A Vedanta não aceita o "pecado original"; mas afirma que os erros cometidos por ignorância são a causa raiz de todas as nossas misérias.

 

De inúmeras maneiras, cada ramo da ciência está proclamando a unidade cósmica do homem. Os Upanishads descobriram essa unidade básica por meio do estudo da mente e da meditação interior. A ciência moderna começou com a exploração dos mistérios da natureza externa. É aqui que podemos discernir a convergência constante de duas das maiores disciplinas humanas – a antiga Vedanta e a ciência moderna. De acordo com a Vedanta, “unidade na diversidade” é o plano da natureza. O homem pode abordar essa unidade tanto de fora como de dentro. Do ponto de vista da física ou biologia moderna, o próprio homem surge como o maior mistério da natureza.

 

O oitavo verso do Isha Upanishad é uma descrição majestosa e poética da natureza da Realidade Suprema: 

स पर्यगाच्छुक्रमकायमव्रणमस्नाविरं शुद्धमपापविद्धम्‌।

कविर्मनीषी परिभूः स्वयम्भूर्याथातथ्यतोऽर्थान्‌ व्यदधात् शाश्वतीभ्यः समाभ्यः ॥

sa paryagācchukram akāyamavraṇamasnāviraṁ śuddhamapāpaviddham |

kavirmanīṣī paribhūḥ svayambhūryāthātathyato'rthān vyadadhāt śāśvatībhyaḥ samābhyaḥ ||

 

“Ele, o que existe por si mesmo, está em toda parte. O Puro Uno, sem corpo sutil, sem mancha, sem músculos que é um corpo físico, santo e sem a mancha do pecado. O vidente, o onisciente, o abrangente é Ele. Ele atribuiu devidamente seus respectivos deveres aos poderes cósmicos eternos, Prajāpatis”. (8) 

 

Aqui está outro belo epíteto do Atman, Kavih, o poeta, o vidente. Ele é o grande poeta e o mundo é seu poema, que sai em rimas e versos. A palavra kavi, poeta, significa não apenas aquele que compõe versos, mas aquele que enxerga longe, krāntadarshi. Um poeta pode ver o que uma pessoa comum não pode ver. Como Sri Shankaracharya coloca, “ele é aquele que tem entendimento e pode ver e compreender o significado interno das coisas”.

 

Como a visão da vida e da ação humana se transforma à luz desta realização da unidade, é exposta por Swami Vivekananda: “Por meio da alta ou baixa filosofia, da mitologia mais exaltada ou mais grosseira, do ritualismo mais refinado ou do fetichismo absurdo, cada seita, cada alma, cada nação, cada religião, consciente ou inconscientemente, está lutando para cima, em direção a Deus; toda visão da verdade que o homem tem, é uma visão Dele, de ninguém mais”. Expondo a abrangência total dessa visão de unidade e harmonia, Swami Vivekananda diz ainda: “O que eu quero é propagar uma religião que seja igualmente aceitável para todas as mentes. Deve ser igualmente filosófica, igualmente emocional, igualmente mística e igualmente propícia à ação. Se vierem professores das faculdades, cientistas e físicos, eles citarão a razão (lógica). Deixe que eles tenham o quanto quiserem. Da mesma forma, se o místico vier, devemos recebê-lo. Esteja pronto para dar-lhe a ciência da análise mental e demonstrar de forma prática diante dele. E, se vierem pessoas emotivas, devemos sentar, rir e chorar com elas em nome do Senhor. Devemos “beber o cálice do amor e enlouquecer”. Se vier o trabalhador enérgico, devemos trabalhar com ele, com toda a energia que temos. E esta combinação será a abordagem mais próxima do ideal de uma religião universal. Tornar-se harmoniosamente equilibrado em todas essas quatro direções é o meu ideal de religião”.

 

अन्धं तमः प्रविशन्ति येऽविद्यामुपासते।

ततो भूय इव ते तमो य उ विद्यायां रताः

andhaṁ tamaḥ praviśanti ye'vidyāmupāsate |

tato bhūya iva te tamo ya u vidyāyāṁ ratāḥ ||

 

अन्यदेवाहुर्विद्ययाऽन्यदाहुरविद्यया।

इति शुश्रुम धीराणां ये नस्तद्विचचक्षिरे ॥

anyadevāhurvidyayā'nyadāhuravidyayā |

iti śuśruma dhīrāṇāṁ ye nastadvicacakṣire ||

 

विद्याञ्चाविद्याञ्च यस्तद्वेदोभयं सह।

अविद्यया मृत्युं तीर्त्वा विद्ययाऽमृतमश्नुते ॥

vidyāñcāvidyāñca yastadvedobhayaṁ saha |

avidyayā mṛtyuṁ tīrtvā vidyayā'mṛtamaśnute ||

 

अन्धं तमः प्रविशन्ति येऽसम्भूतिमुपासते।

ततो भूय इव ते तमो य उ सम्भूत्यां रताः ॥

andhaṁ tamaḥ praviśanti ye'sambhūtimupāsate |

tato bhūya iva te tamo ya u sambhūtyāṁ ratāḥ ||

 

अन्यदेवाहुः सम्भवादन्यदाहुरसम्भवात्‌।

इति शुश्रुम धीराणां ये नस्तद्विचचक्षिरे ॥

anyadevāhuḥ sambhavādanyadāhurasambhavāt |

iti śuśruma dhīrāṇāṁ ye nastadvicacakṣire ||

 

सम्भूतिञ्च विनाशञ्च यस्तद्वेदोभयं सह।

विनाशेन मृत्युं तीर्त्वा सम्भूत्याऽमृतमश्नुते ॥

sambhūtiñca vināśañca yastadvedobhayaṁ saha |

vināśena mṛtyuṁ tīrtvā sambhūtyā'mṛtamaśnute || 

 

Os próximos seis versículos de 09 a 14 são analisados em conjunto. Porque todos esses seis versículos juntos nos darão uma mensagem comum. Por meio desses versos aparentemente confusos, o Ishavasya Upanishad tenta reconciliar o conhecimento espiritual e o conhecimento secular, vidya e avidya. Além disso, o Brahman Absoluto e o universo manifesto, sambhūti e vināsha. Essas demarcações do conhecimento secular e do conhecimento espiritual, Absoluto e o mundo manifesto, são para a fácil compreensão do nosso entendimento. Seguimos esse método para entender esses fatos. Mas na realidade não há diferença. Uma pessoa de realização também vê unidade na diversidade porque vê Deus em tudo. As seguintes palavras da Irmã Nivedita em sua introdução às “Obras Completas de Swami Vivekananda”, esclarecem ainda mais essa ideia. “É isso que adiciona seu significado culminante à vida de nosso Mestre (isso é, a vida de Swami Vivekananda). Pois aqui ele se torna o ponto de encontro. Não apenas do Oriente e do Ocidente, mas também do passado e do futuro. Se os muitos e o Um são de fato a mesma Realidade, então não são todos os modos de adoração somente. Mas igualmente todos os modos de trabalho, todos os modos de esforço, todos os modos de criação, que são caminhos de realização. Nenhuma distinção, doravante, entre sagrado e secular. Trabalhar é orar. Vencer é renunciar. A própria vida é religião. Ter e manter é tão rigoroso quanto uma confiança, quanto desistir e evitar”. Isso precisa de mais explicações. Para um indivíduo ou uma nação progredir, tanto o conhecimento secular quanto a perspectiva espiritual são essenciais. Caso contrário, será uma visão parcial da Verdade; e tal indivíduo ou nação terá desenvolvimento parcial. Queremos prosperidade material e bem-estar espiritual. É por isso que Swami Vivekananda iniciou uma organização gêmea – Ramakrishna Math e Ramakrishna Mission. Ramakrishna Math concentra-se principalmente em espiritualidade, religião e aspectos culturais. Enquanto a Missão Ramakrishna mantém principalmente instituições educacionais, hospitais, realiza atividades de socorro durante as calamidades e faz muito mais atividades de bem-estar social. Isso conduz à prosperidade material e ao bem-estar social. No Ishavasya Upanishad também os dois aspectos acima são reconciliados – nosso bem-estar secular e o bem-estar espiritual.

 

Agora vamos passar para o próximo versículo.

हिरण्मयेन पात्रेणसत्यस्यापिहितं मुखम्

तत् त्वं पूषन्नपावृणु सत्यधर्माय दृष्टये

hiraṇmayena pātreṇa satyasyāpihitaṁ mukham |

tat tvaṁ pūṣannapāvṛṇu satyadharmāya dṛṣṭaye ||

 

“Pela tampa do orbe dourado está oculta a face da Verdade. Por favor, remova-a, ó Sol, o Nutridor do mundo.

Para que eu possa ver a Ti – eu que sou devotado à verdade”.

 

Vamos tentar pensar na mentalidade de uma alma que luta. Ele sempre levou uma vida honesta e justa. Seu corpo é o organismo psicofísico que a serviu como um bom instrumento para a realização da Verdade. Em sua velhice, seu corpo está desgastado e exausto. Ele está esperando a morte certa a qualquer momento. Ele sabe que não atingiu a perfeição. Ou talvez ele não tenha certeza disso. Porque, de acordo com algumas escrituras, o estado de ser "livre mesmo em vida", Jeevanmukti, é alcançado apenas por sábios ou monges que renunciam a tudo. Este aspirante não cometeu nenhum pecado deliberadamente. Ele lutou muito ao longo de sua vida para levar uma vida moral e espiritual. Ele tentou estabelecer sua identidade com o Ser Cósmico por meio da meditação e boas ações. Aqui, Sol é simbolicamente escolhido como representante do Deus Supremo, Pūshan. Quero mencionar alguns fatos importantes sobre o Sol, o Grande Alimentador:

 

• Até os cientistas aceitam a importância do sol. Todos os processos microcósmicos, as atividades mínimas e processos macrocósmicos, as grandes atividades do sistema solar, são governados e controlados pelo sol. Ele o faz com muita sinceridade e prontamente, sozinho. Ele não descansa, enquanto todos nós descansamos.

 

• Em todas as religiões, o Sol ocupa o lugar mais alto. Os persas ou zoroastristas são adoradores do deus-sol. Várias religiões, incluindo o hinduísmo, deram o lugar mais alto ao deus-sol.

 

• O Sol é o nutridor de todo o Sistema Solar. Ele é considerado o Deus visível. Ele também é conhecido como Surya Bhagawan ou Surya Narayana, uma das manifestações do Deus Supremo. 

 

• O Sol também é considerado um dos preceptores espirituais, Gurus, que transmitiu conhecimento espiritual no início, conforme mencionado no Bhagavad Gita. O Sol também confere sabedoria, o conhecimento superior. De acordo com a mitologia, Hanuman queria aprender todos os ramos do conhecimento com o deus Sol. Hanuman foi até ele para aprender. O Sol estava muito feliz por ter um aluno brilhante como Hanuman. O Sol disse a ele que ficaria feliz em ensiná-lo, mas não conseguia parar de se mover. Então, Hanuman também continuou se movendo com o sol na mesma velocidade e aprendeu todo o conhecimento dele.

 

• O deus-sol, em seu aspecto feminino, é considerado a Mãe de todas as energias, a Mãe Divina Gāyatri. Ela também é comparada a Gayatri Chanda ou métrica em que o sagrado Gayatri Mantra é definido.

Om, bhūr bhuvah suvah! Tat saviturvarēnyam bhargo dēvasya dhīmahi; dhiyo yo nah prachōdayāt, Om ||

“Aquele Sol, o adorável, na glória daquele luminoso meditamos; que Ele inspire nossa inteligência pura !” 

 

Muitos grupos de devotos costumavam visitar Sri Ramakrishna. Às vezes, alguns deles ficavam entediados ao ouvir suas palestras apenas sobre Deus e espiritualidade. Eles cutucavam seus amigos, indicando que gostariam de ir. Se os amigos interessados ainda continuassem a ouvir o Mestre, eles se levantavam e saíam dizendo, ‘estaremos esperando por você no barco’. Essa é a diferença entre verdadeiros aspirantes e ouvintes casuais. O aspirante deste Upanishad é muito sincero. Durante toda a vida ele adorou e meditou no Sol como o Deus Supremo. Ele sempre foi fascinado pela orbe dourada ou a face do sol. Agora ele não está mais interessado na beleza externa perecível. Ele quer ver a beleza interna imperecível. Em outras palavras, ele deseja ver a realidade espiritual por trás do sol físico. Isso também significa que ele deseja conhecer a Verdade Suprema por trás de si mesmo. Este é o significado interno deste belo versículo. Ele ainda ora ao Sol,

पूषन्नेकर्षे यम सूर्य प्राजापत्य व्यूहरश्मीन्समूह।

तेजो यत् ते रूपं कल्याणतमं तत्तेपश्यामि

योऽसावसौ पुरुषः सोऽहमस्मि ॥

pūṣannekarṣe yama sūrya prājāpatya vyūha raśmīn samūha |

tejo yat te rūpaṁ kalyāṇatamaṁ tatte paśyāmi

yo'sāvasau puruṣaḥ so'hamasmi ||

 

“Ó Nutridor ! Ó viajante solitário dos céus ! Ó Regulador do Universo !

Ó Sol, tu descendente  do Criador ! Remova teus raios, reúna teu esplendor. Para que eu possa ver tua forma verdadeira mais auspiciosa. A Pessoa que está em Ti, sou eu”.

 

O aspirante de Isha Upanishad, do fundo de seu coração está orando a Deus para mostrar Sua forma mais auspiciosa. Você pode notar que ele não está dizendo a Deus que está cheio de pecados e que o salve deles. Em vez disso, ele está declarando com convicção: “Eu sou o mesmo Deus Supremo que está no sol” - योऽसावसौपुरुषःसोऽहमस्मि॥ Esta curta frase constitui o ponto crucial de todo o Isha Upanishad. Se conseguirmos apenas nos lembrar dessa frase curta, ela nos dará muita força interior. O sol pode ser muito superior a nós em termos de magnanimidade e importância da ação. Mas somos em essência uma e a mesma Realidade Suprema. É semelhante ao imenso oceano e a uma minúscula onda que são feitos do mesmo elemento, a água. Se somos filhos de Deus, somos os herdeiros de todas as qualidades abençoadas que Ele possui.

 

Neste contexto, um exemplo do rei e seu guarda-costas é dado. O rei está sentado no trono e seu guarda está vigiando no portão. Externamente, há muita diferença. Mas se a insígnia que lhes dá uma identidade especial for retirada, ambos são os mesmos seres humanos. Da mesma forma, há uma enorme diferença externa entre o grande deus-Sol e nós. Mas, em essência, somos um com Deus. Esse é o significado deste verso do Isha Upanishad. A oração continua no próximo versículo,

वायुरनिलममृतमथेदं भस्मांतं शरीरम्‌।

ॐ क्रतो स्मर कृतं स्मर क्रतो स्मर कृतं स्मर ॥

vāyuranilamamṛtamathedaṁ bhasmāṁtaṁ śarīram |

om krato smara kṛtaṁ smara krato smara kṛtaṁ smara ||

 

“As forças vitais em mim estão prestes a se fundir no Prana imortal, a energia cósmica. Então, este corpo (mortal) será reduzido a cinzas. Om ! Ó mente ! Lembre-se de suas (boas) ações; lembre-se de suas boas ações”.

 

De acordo com a Vedanta, destruição significa voltar ao estado causal. Não pode haver aniquilação total da matéria ou energia, mesmo de acordo com a ciência moderna. É por isso que os hindus queimam os cadáveres logo após a morte de uma pessoa. Então, o aspirante está orando: “Deixe o fogo reduzir meu corpo a cinzas; e minhas forças vitais se fundem na Energia Cósmica depois que eu partir deste corpo”. Ele não tem medo da morte. Em vez disso, ele está pedindo a sua mente que se lembre de todas as boas obras que fez ao longo de sua vida. Porque ele sabe que terá que aproveitar os resultados de suas boas ações. Nenhum poder neste mundo pode impedir isso. Ele quer encher sua mente com pensamentos elevados. Isso também implica que é necessário praticar boas ações durante toda a vida para ter uma mentalidade tão estável na hora da morte. Existe outra crença popular. Qualquer pensamento que predomine na mente durante a hora da morte, está-se fadado a atingir esse estado. Nesse sentido, a história mitológica de Jada Bharata vem à minha mente. Bharata foi um grande rei. Depois de governar o reino por muitos anos, ele confiou seu reino a seus filhos e foi para a floresta para levar uma vida de eremita. Lá ele se apegou a um veado e depois de sua morte nasceu como veado. Como cervo, ele costumava vagar pelos eremitérios dos santos. Após sua morte, ele nasceu como um dos filhos de um piedoso brâmane. Ele tinha pleno conhecimento de seus nascimentos anteriores. Ele não queria se apegar. Então, ele não falava com ninguém e se comportava como uma pessoa inerte e estúpida. Certa vez, ele foi levado por seguidores da forma diabólica de adoração do tantra, para ser oferecido como um sacrifício à Mãe Kali. Ele estava prestes a ser sacrificado em frente à imagem da Mãe Kali. Naquele momento, Mãe Kali saiu da imagem e matou o sacerdote e seus seguidores que estavam prestes a sacrificar Jada Bharata. Após esse incidente, um dia, o rei daquele lugar estava passando em um palanquim para encontrar um sábio para atingir o autoconhecimento. Naquela época, um dos portadores do palanquim adoeceu. Vendo o bem constituído Jada Bharata sentado sob uma árvore, eles o levaram para carregar o palanquim. Enquanto caminhava, ele tremia, evitando pisar nas formigas no caminho.  O rei ficou com raiva devido ao seu tremor e ameaçou puni-lo. Então Jada Bharata abriu a boca e disse que ele era o Espírito Imutável Atman e ninguém poderia puni-lo. O rei ficou surpreso e entendeu que Jada Bharata não era uma pessoa comum e caiu a seus pés em busca de perdão. Jada Bharata disse a ele que ele também foi um rei uma vez. Devido ao apego, ele teve que ter vários nascimentos. Jada Bharata deu ao rei autoconhecimento e aconselhou-o a abandonar todo apego às coisas inferiores e alcançar a divindade. Essa história nos ensina a ser muito cautelosos com nossos pensamentos.

 

Agora, vamos considerar o último e o décimo oitavo versículo deste Upanishad.

अग्ने नय सुपथा राये अस्मान्‌ विश्वानि देव वयुनानि विद्वान्‌।

युयोध्यस्मज्जुहुराणमेनो भूयिष्ठां ते नम‍उक्तिं विधेम

agne naya supathā rāye asmān viśvāni deva vayunāni vidvān |

yuyodhyasmajjuhurāṇameno bhūyiṣṭhāṁ te namauktiṁ vidhema ||

 

“Ó Deus do Fogo, conduza-nos pelo bom caminho para as esferas superiores. Para que possamos desfrutar da riqueza dos frutos das boas ações que praticamos. Tu conheces todas as nossas ações. Senhor, destrua o pecado enganoso em nós. Nós Te saudamos com nossas palavras repetidas vezes”.

 

O aspirante sabe que a morte não é o fim de sua existência. É apenas uma transição para um nível superior de existência. Ele não quer voltar a este mundo novamente. Portanto, ele está pedindo a Deus que queime todas as impurezas que permanecerem nele. Ele está oferecendo saudações, Namastê, como uma marca de sua entrega total a Deus.


Alguém pode perguntar: "Por que devemos lutar pela emancipação ?". Um dos motivos é o desgosto por este mundo; e o segundo sendo o renascimento. Esta vida e morte é um ciclo interminável de alegrias e tristezas. De acordo com a Vedanta, a pessoa pode se tornar livre mesmo enquanto vive, jivanmukti. Existe outra classe de pessoas que não temem o renascimento neste mundo. Elas são as grandes personalidades que estão prontas para vir a este mundo repetidas vezes para ajudar os outros. Swami Vivekananda foi uma grande personalidade que disse: “Que eu possa nascer de novo e de novo, e sofrer milhares de misérias, para que possa adorar o único Deus que existe, o único Deus em que acredito, a soma total de todas as almas; e, acima de tudo, meu Deus, o mau, meu deus, o miserável, meu Deus, o pobre de todas as raças, de todas as espécies, é o objeto especial de minha adoração”. Em outra ocasião, ele disse: “O mundo inteiro está cheio do Senhor. Abra os olhos e veja-O. É Ele quem está no filho, na mulher e no marido; é Ele quem está no bem e no mal; Ele está no pecado e no pecador; Ele está na vida e na morte. Se um homem com um ideal comete mil erros, tenho certeza que o homem sem um ideal comete cinquenta mil. O ideal do homem é ver Deus em tudo. Mas se você não pode vê-Lo em tudo, veja-O em uma coisa, naquela coisa que você mais gosta, e então O veja em outra. Desta forma você pode seguir. Existe vida infinita diante da alma. Leve o seu tempo e você alcançará seu objetivo”. Swami Vivekananda nunca se importou com seu próprio conforto ou liberação. Uma vez ele disse que enquanto até mesmo um cachorro estivesse em cativeiro neste mundo, ele estava pronto para nascer novamente e novamente para ajudar os outros. Em outra ocasião, ele disse: “O homem altruísta diz: “Eu serei o último. Eu não me importo em ir para o céu. Eu irei para o inferno se assim puder ajudar meus irmãos”. Ele também nos perguntou: “Você ama seus semelhantes ? Onde você deve ir em busca de Deus ? Não são todos os pobres, os miseráveis, os fracos, Deuses ? Por que não adorá-los primeiro?”. Ele deu forma às suas experiências e ideias espirituais ao fundar a Missão Ramakrishna. É assim que a mensagem dos Upanishads é colocada em prática. Isso é chamado de Vedanta prática. Assim, todos aqueles que estão associados à Missão Ramakrishna não apenas estudam a Vedanta, mas também praticam essas ideias em suas vidas.

 

 पूर्णमदः पूर्णमिदं पूर्णात्पूर्णमुदच्यते ।
पूर्णस्य पूर्णमादाय पूर्णमेवावशिष्यते ॥
 शान्तिः शान्तिः शान्तिः ॥

oṃ | pūrṇamadaḥ pūrṇamidaṃ pūrṇātpūrṇamudacyate |
pūrṇasya pūr
amādāya pūrṇamevāvaśiṣyate |

Om Shantiḥ Shantiḥ Shantiḥ॥

“O invisível (Brahman) é infinito. O visível (mundo) também é infinito. Do Infinito (Brahman) o universo Infinito (visível) surgiu. O Infinito (Brahman) permanece o mesmo, embora o Infinito (universo visível) tenha saído deste Infinito (Brahman)”

Om ! Paz ! Paz ! Paz ! 

Curitiba Centro Ramakrishna Vedanta