Nossa Inspiração
Trio Sagrado

Swami Vivekananda

Sri Ramakrishna

Sri Sarada Devi

Sri Ramakrishna

Sri Ramakrishna

Sri Ramakrishna (1836-1886) é adorado por milhares de pessoas como uma encarnação divina, ou avatar. Sua vida foi um testemunho da verdade e da universalidade dos princípios espirituais, assim como da pureza e do amor.

Nascido em Kamarpukur, uma aldeia próxima a Calcutá, desde criança demonstrou uma grande inclinação para a vida espiritual. Como o jovem sacerdote de um templo em Dakshineswar (Calcutá), Ramakrishna mergulhou em intensas práticas espirituais e profundas meditações, tomado por um forte anelo por Deus e pelo anseio da comunhão divina.

Vivia constantemente absorto em Deus. Em seus frequentes êxtases espirituais, alcançava o sublime estado de união com a Infinita Realidade. Para ele, o ensinamento védico da unidade da existência era mais que uma teoria, pois realizou essa verdade pela percepção direta. Sri Ramakrishna trilhou diferentes caminhos religiosos dentro do Hinduísmo. Mais tarde praticou o islamismo e depois meditou profundamente em Jesus Cristo, experimentando a mesma Realidade Divina através desses caminhos não hindus.

A Família de Sri Ramakrishna

Sri Ramakrishna nasceu em 18 de fevereiro de 1836 no vilarejo Karmapukur, cerca de dez quilômetros a noroeste de Calcutá. Seus pais, Kshudiram Chattopadhyaya e Chandramani Devi, eram muito piedosos e dotados de inúmeras virtudes. Naquela época Kshudiram estava vivendo no vilarejo ancestral de Derepore, próximo de Kamarpukur. Seu primeiro filho, Ramkumar, nasceu em 1805, e sua primeira filha, Katyayani, em 1810.

Em 1814, o proprietário das terras onde eles viviam mandou que Kshudiram prestasse falso testemunho no tribunal contra um vizinho. Quando ele se recusou a fazê-lo, o senhor moveu uma ação contra ele e lhe retirou a propriedade ancestral. Assim, desprovido de seu bem material mais importante, Kshudiram mudou-se para a pacata vila de Kamarpukur, a convite de outro proprietário, que lhe deu uma casa e aproximadamente um acre de terra fértil. As colheitas dessa pequena propriedade eram suficientes para atender as necessidades básicas de sua família. Ali ele viveu com simplicidade, dignidade e contentamento.

Dez anos depois de sua chegada a Kamarpukur, Kshudiram fez uma peregrinação a pé até Rameswaram, no extremo sul da Índia. Dois anos depois nasceu seu segundo filho, Rameswar. Novamente, em 1835, com a idade de sessenta anos, fez uma peregrinação a Gaya. Ali, desde tempos imemoriais, os indianos vêm dos quatro cantos da Índia a fim de cumprir suas obrigações com seus ancestrais, fazendo-lhes oferendas nas sagradas pegadas do Senhor Vishnu. Nesse lugar sagrado Kshudiram teve um sonho em que o Senhor Vishnu lhe prometeu nascer como seu filho; sua esposa Chandramani Devi, defronte ao templo de Shiva em Kamarpukur, também teve uma visão mostrando-lhe o nascimento da divina criança. Quando regressou, o marido encontrou-a grávida.

Gadadhar Quando Criança

Quando criança, Sri Ramakrishna (seu nome de nascimento era Gadadhar) era muito amado pelos aldeões. Desde o princípio, ele não tinha interesse pela educação formal e nem por assuntos mundanos. Entretanto, ele era um garoto muito talentoso e podia cantar e pintar muito bem. Gostava de servir os homens santos e escutar suas histórias. Era muito comum encontrá-lo absorto em estados espirituais. Com a idade de seis anos ele experimentou seu primeiro êxtase, quando viu uma revoada de grous brancos movendo-se sobre um fundo de nuvens escuras. Essa tendência de entrar em êxtase foi se intensificando com a idade. Seu pai faleceu quando Gadadhar tinha sete anos e esse acontecimento aprofundou seu comportamento introspectivo e seu desapego pelo mundo.

A Vida de Sacerdote no Templo de Dakshineswar

Quando Sri Ramakrishna tinha cerca de dezesseis anos, seu irmão Ramkumar levou-o até Calcutá para que ele o assistisse em sua profissão sacerdotal. Em 1855, o templo de Kali, em Dakshineswar, construído por Rani Rasmani, foi consagrado e Ramkumar tornou-se o sacerdote chefe deste templo. Quando ele faleceu, alguns meses depois, Sri Ramakrishna foi indicado como sacerdote. Este desenvolveu intensa devoção pela Divina Mãe Kali e consagrava muitas horas em adoração de Sua imagem, esquecendo-se dos rituais e das tarefas sacerdotais. Seu intenso anelo culminou na visão da Divina Mãe Kali como ilimitada refulgência permeando tudo à sua volta.

Intensas Práticas Espirituais

O estado de intoxicação divina de Sri Ramakrishna alarmou seus familiares em Kamarpukur e eles convenceram-no a se casar com Saradamani, uma garota do vilarejo vizinho de Jayrambati. Mesmo assim, Sri Ramakrishna continuou com suas intensivas práticas espirituais. Motivado por intenso chamado interior para experimentar os diferentes aspectos de Deus, ele seguiu, com a ajuda de vários Gurus, os muitos caminhos descritos nas escrituras hindus e realizou Deus através de cada um deles.

O primeiro Guru que apareceu em Dakshineswar (em 1861), foi uma mulher extraordinária conhecida como Bhairavi Brahmani, que era uma avançada mestra espiritual muito versada nas escrituras. Com sua ajuda, Sri Ramakrishna praticou várias das mais difíceis disciplinas do caminho tântrico e teve êxito em todas elas. Três anos mais tarde, chegou um monge errante chamado Totapuri, e sob sua orientação, Sri Ramakrishna atingiu o Nirvikalpa Samadhi, a mais elevada experiência espiritual mencionada nas escrituras hindus. Ele permaneceu neste estado de não dualidade por seis meses sem nenhuma consciência de seu próprio corpo. Dessa maneira, Sri Ramakrishna experienciou toda a gama de experiências espirituais de mais de três mil anos da religião hindu.

Praticando outras Religiões

Com sua insaciável sede por Deus, Sri Ramakrishna rompeu as fronteiras do Hinduísmo e percorreu os caminhos do Islam e Cristianismo, atingindo a mais elevada realização em cada um deles em curtos períodos de tempo. Ele aceitava Jesus e Buda como Encarnações Divinas e venerou os dez Gurus Sikhs. Expressou a quintessência dos seus doze anos de intensiva realização espiritual em uma simples frase: Yato mat, tato path, cujo significado é: “Quantas forem as crenças, tantos serão os caminhos”. Ele agora vivia frequentemente num exaltado estado de consciência, onde via Deus em todos os seres.

Adorando Sri Sarada Devi no Templo

Em 1872, sua esposa Sarada Devi, agora com dezenove anos, veio a Calcutá para encontrá-lo. Ele a recebeu cordialmente, ensinou-a como executar as tarefas domésticas e ao mesmo tempo praticar uma intensa vida espiritual. Uma noite, ele adorou-a como a Mãe Divina no altar do seu quarto situado no conjunto de templos de Dakshineswar. Embora sua esposa permanecesse com ele, eles viviam vidas puras e imaculadas, e sua relação matrimonial era puramente espiritual. É preciso mencionar aqui que Sri Ramakrishna havia sido ordenado sanyasin (monge hindu), e mantinha os votos monásticos básicos que conduzem à perfeição. Mas, externamente, ele vivia como um homem laico, humilde, amável e com a simplicidade de uma criança. Desde que Sri Ramakrishna veio para Dakshineswar, Rani Rasmani, fundadora do templo, foi quem primeiramente proveu suas necessidades. Após o falecimento dela, seu genro, Mathur Nath Biswas, assumiu a responsabilidade de cuidar de Sri Ramakrishna.

Contato com Alguns Notáveis


O nome de Sri Ramakrishna começou a ser conhecido à medida que se espalhava a notícia de que ele era um iluminado santo bengali. Mathur, certa vez, convocou uma assembleia de eruditos para analisar os estados espirituais de Sri Ramakrishna e concluíram que ele não era um homem comum, pois apresentava todas as características de um Avatar. Nessa época, o movimento sociorreligioso conhecido como Brahmo Samaj, fundado por Raja Ram Mohan Roy, encontrava-se no topo da popularidade em Bengala. Sri Ramakrishna entrou em contato com muitos líderes e membros do Brahmo Samaj e exerceu grande influência sobre eles. Seus ensinamentos sobre a harmonia das religiões atraíram pessoas pertencentes a diferentes denominações religiosas, e Dakshineswar tornou-se um verdadeiro parlamento das religiões.


A Chegada dos Devotos


Como um enxame de abelhas rodeando uma flor totalmente desabrochada, os devotos começaram a chegar até Sri Ramakrishna. Ele os dividiu em duas categorias: a primeira consistia de chefes de família e ele os ensinou como realizar Deus enquanto viviam no mundo e cumpriam seus deveres familiares. A outra, e mais importante categoria, era composta por um grupo de jovens educados, a maioria da classe média de Bengala, que ele treinou para se tornarem monges e, assim, serem os porta-vozes de sua mensagem para a humanidade. O principal dentre eles foi Narendra, que anos mais tarde, com o nome de Swami Vivekananda, semeou a mensagem universal da Vedanta em diferentes países do mundo, revitalizando o Hinduísmo e despertando o espírito da nação indiana.

O Evangelho de Sri Ramakrishna


Sri Ramakrishna não escreveu nenhum livro, nem ministrou palestras públicas. Ao invés disso, ele falava em uma linguagem simples com o uso de parábolas e metáforas de maneira ilustrativa, baseadas em sua observação da natureza e das coisas comuns do dia a dia. Suas conversas eram encantadoras e atraíram a elite cultural de Bengala. Essas conversas foram anotadas por um de seus discípulos, Mahendranath Gupta, que as publicou em bengali sob a forma de livro, com a denominação: “Sri Ramakrishna Kathamrita” (O néctar das palavras de Sri Ramakrishna). Sua versão em inglês, denominada “The Gospel of Sri Ramakrishna”, foi publicada em 1942. O livro foi editado também em português com a denominação: “O Evangelho de Sri Ramakrishna” e está sendo traduzido e editado em outros idiomas, fazendo com que aumente sua popularidade em função de sua relevância e apelo universais.

Últimos dias


A intensidade de sua vida espiritual e a incansável tarefa de dar instruções para um interminável fluxo de aspirantes espirituais, consumiu a saúde de Sri Ramakrishna, que desenvolveu câncer na garganta em 1885. Então, mudou-se para uma casa de campo mais espaçosa, onde esteve sob os cuidados de seus jovens discípulos noite e dia. O Mestre, na sua relação com os seus discípulos, era a manifestação contínua do amor puro, que também estava sempre presente no convívio com as outras pessoas que o rodeavam, e essa relação amorosa foi a tônica e a pedra fundamental da futura ordem monástica conhecida como Ramakrishna Math. Nas primeiras horas do dia 16 de agosto de 1886, Sri Ramakrishna deixou seu corpo repetindo o nome da Mãe Divina.

Sri Sarada Devi

Sri Sarada Devi, a Santa Mãe

Carinhosamente chamada de "Santa Mãe", Sri Sarada Devi (1853-1920) foi consorte e companheira espiritual de Sri Ramakrishna. De acordo com os costumes vigentes na Índia daquela época, foi-lhe prometida em casamento quando tinha cinco anos de idade e ele vinte e três. Mais tarde, ocorreram dois encontros significativos com Sri Ramakrishna: o primeiro aos 13 e o segundo aos 14 anos, quando teve a oportunidade de conviver com ele por um breve período e receber seus primeiros ensinamentos.


Aos dezoito anos, quando ainda vivia com seus pais em Jayrambati, começou a ouvir rumores de que seu marido havia enlouquecido. Nesse momento, sentiu que era seu dever de esposa ir ao seu encontro e oferecer-lhe seu apoio. Nessa época, Ramakrishna já estava totalmente dedicado às suas práticas espirituais, levando uma vida de monge celibatário. Foi nessa condição, e com toda a gentileza, que recebeu sua jovem esposa, que ficou aliviada ao concluir que ele se encontrava em perfeita saúde, tanto física como mental.

Ainda criança, Sarada já era devotada a Deus, e despendia a maior parte de seu tempo ajudando sua mãe nos afazeres domésticos, como cuidar de seus irmãos mais novos, vigiar o gado e levar comida até seu pai que trabalhava no campo. Ela não teve uma educação formal, mas conseguiu aprender o alfabeto bengali. Quando ela tinha cerca de seis anos de idade, casou-se com Sri Ramakrishna, de acordo com o costume predominante na Índia daqueles tempos. Entretanto, após o casamento, ela continuou a morar com seus pais, enquanto Sri Ramakrishna vivia uma vida de encantamento por Deus em Dakshineshwar.

A Vida em Dakshineshwar

Com a idade de dezoito anos, na companhia de seu pai, ela percorreu a pé todo o caminho de sua casa até Dakshineshwar para encontrar seu esposo. Sri Ramakrishna, que estivera imerso em intensas práticas de várias disciplinas espirituais por mais de doze anos e havia alcançado o mais elevado estado de realização espiritual, no qual podia ver Deus em todos os seres. Ele recebeu Sarada Devi com grande afeição, ensinando-a a levar uma vida espiritual ao mesmo tempo em que cumpria seus afazeres domésticos. Suas vidas foram de absoluta pureza e ela o serviu como sua devotada esposa e discípula.

Sri Ramakrishna tratou Sarada Devi como uma manifestação especial da Divina Mãe do universo (os hindus veem Deus como Mãe, diferentemente dos ocidentais que o veem como Pai). Em 1872, na noite do Phala-harini-Kali-puja, ele adorou Sri Sarada Devi ritualisticamente como a Mãe Divina despertando, desse modo, a maternidade universal latente nela. Quando os discípulos começaram a chegar até Sri Ramakrishna, Sarada Devi aprendeu a vê-los como seus próprios filhos. O quarto em que ela vivia em Dakshineshwar era muito pequeno e quase sem nenhum conforto; e em muitos dias ela não teve a oportunidade de ver Sri Ramakrishna. Mas ela suportou essas e muitas outras dificuldades silenciosamente, vivendo em contentamento e paz, e servindo o crescente número de devotos que vinham ver Sri Ramakrishna.

Liderando a Ordem após a Passagem do Mestre

Após o falecimento de Sri Ramakrishna, em 1886, Sarada Devi saiu por alguns meses em peregrinação. Depois disso foi para Kamarpukur onde levou uma vida de grande privação. Vindo a saber disto, os discípulos de Sri Ramakrishna trouxeram-na para Calcutá. Esta foi uma reviravolta em sua vida. Ela, então, começou a aceitar aspirantes espirituais como seus discípulos, tornando-se a porta de entrada da imortalidade para centenas de pessoas. Seu imenso coração de mãe, dotado de amor e compaixão inesgotáveis, recebeu todas as pessoas sem qualquer distinção, incluindo até aquelas que tiveram vidas pecaminosas.

Quando as discípulas ocidentais de Swami Vivekananda vieram a Calcutá, a Santa Mãe as aceitou de braços abertos como se fossem suas filhas, ignorando as restrições da ortodoxa sociedade daqueles tempos. Embora ela tenha crescido em uma sociedade rural e conservadora, sem qualquer acesso à educação moderna, possuía uma visão muito além de seu tempo, apoiando Swami Vivekananda em seus planos de revitalização da Índia e de elevação dos desamparados e das mulheres. Ela esteve intimamente ligada com a escola para meninas iniciada por Sister Nivedita.

Ela viveu a maior parte de sua vida em Calcutá e no seu vilarejo natal, Jayrambati. Durante seus primeiros anos nesta cidade cosmopolita, suas necessidades foram atendidas por Swami Yogananda, um discípulo de Sri Ramakrishna. Nos anos seguintes, ela teve suas necessidades atendidas por outro discípulo de Sri Ramakrishna, Swami Saradananda, que construiu uma nova casa para ela em Calcutá.



Embora ela fosse muito venerada por seu elevado estado espiritual e literalmente adorada como Santa Mãe, continuou a viver como uma simples mulher do vilarejo, lavando roupas, varrendo o chão, buscando água no lago, descascando vegetais, cozinhando e servindo alimentos. Em Jayrambati ela viveu com seus irmãos e suas famílias. Eles lhe deram muitos problemas, mas por estar estabelecida na consciência de Deus e devido a sua divina maternidade, sempre permaneceu calma e controlada, derramando amor e bênçãos a todos aqueles que tinham contato com ela. Como Sister Nivedita disse: “Sua vida foi uma prece longa e tranquila”.


Sob a tensão de intenso trabalho físico, abnegação e repetidos ataques de malária, sua saúde se deteriorou nos últimos anos de sua vida, e ela deixou este mundo no dia 21 de julho de 1920. Ela foi um modelo único de discípula ideal, monja, esposa e mestra. Para seus incontáveis filhos espirituais ela sempre foi a mãe amorosa. Todos aqueles que tiveram contato com ela sentiram-se profundamente tocados por seu amor incondicional e trabalho altruísta. Todos eram seus filhos, independente de nacionalidade, filiação religiosa ou posição social. Ninguém, jamais, foi rejeitado. Ela sempre acolheu a todos sem nenhuma distinção.

Swami Vivekananda

Swami Vivekananda

Swami Vivekananda, cujo nome pré-monástico era Narendra Nath Datta, nasceu numa influente família de Calcutá – Índia, no dia 12 de janeiro de 1863. Seu pai, Vishwanath Datta, foi um advogado bem sucedido, e sua mãe, Bhuvaneshwari Devi, era dotada de profunda devoção e forte personalidade.

Como um garoto precoce, Narendra se destacava na música, na ginástica e nos estudos. Mais tarde graduou-se na Universidade de Calcutá, e adquiriu um vasto conhecimento sobre diferentes assuntos, especialmente filosofia e história ocidentais. Tendo nascido com a natureza de um yogui, ele costumava praticar meditação desde sua infância, e associou-se ao Movimento Brahmo Samaj por algum tempo.

Com Sri Ramakrishna

No início de sua juventude, Narendra passou por um período de crise espiritual, quando foi assaltado por dúvidas sobre a existência de Deus. Foi nesta época que ouviu, pela primeira vez, seu professor de inglês da faculdade falar sobre Sri Ramakrishna. Em novembro de 1881, Narendra decidiu conhecer Sri Ramakrishna, que vivia no Templo de Kali em Dakshineshwar.

Narendra, no seu primeiro encontro com o Mestre, fez a ele a pergunta que já havia feito antes para vários preceptores espirituais, que não lhe deram uma resposta satisfatória até aquela data: “O Senhor já viu Deus?”. Imediatamente Sri Ramakrishna respondeu: “Sim, eu já O vi. Eu O vejo tão claramente quanto vejo você, só que de uma forma muito mais intensa”.

Além de remover as dúvidas da mente de Narendra, Sri Ramakrishna o conquistou através de sua pureza e amor inegoísta e, assim, começou o relacionamento entre guru e discípulo. Narendra tornou-se, então, um frequente visitante de Dakshineshwar e sob a orientação do Mestre fez rápidos progressos no caminho espiritual. Narendra também conheceu outros jovens que eram devotos de Sri Ramakrishna, com os quais estabeleceu uma grande amizade espiritual.

Após alguns anos, dois eventos causaram grande sofrimento a Narendra. O primeiro foi a morte repentina de seu pai, em 1884, deixando a família empobrecida. Narendra teve, então, que assumir a responsabilidade de sustentar sua mãe, irmãos e irmãs. O segundo evento foi a doença de Sri Ramakrishna, que foi diagnosticada como câncer na garganta. Em setembro de 1885, Sri Ramakrishna mudou-se para uma casa em Shyampukur, e alguns meses depois para outra casa alugada em Cossipore. Nestes dois lugares os jovens discípulos cuidaram do Mestre com muita devoção. Apesar da pobreza em sua casa e da dificuldade em arrumar um emprego, Narendra juntou-se ao grupo como seu líder.

O Início da Nova Ordem Monástica


Sri Ramakrishna passou para seus jovens discípulos o espírito de renúncia e amor fraternal. Um dia o Mestre distribuiu entre eles as vestes ocres de sanyasins (monges) e os enviou para esmolar por comida. Neste sentido, o próprio Sri Ramakrishna lançou a pedra fundamental da nova Ordem monástica. Ele deu instruções específicas a Narendra sobre a formação desta nova Ordem. Nas primeiras horas do dia 16 de agosto de 1886, Sri Ramakrishna deixou seu corpo. Após o falecimento do Mestre, quinze de seus jovens discípulos (o décimo sexto se juntou mais tarde) começaram a viver juntos numa casa em Baranagore, norte de Calcutá. Sob a liderança de Narendra, eles constituíram a nova Ordem monástica, e em 1887 tomaram os votos formais de sannyasa (renúncia), adotando assim novos nomes monásticos. Narendra tornava-se assim, Swami Vivekananda (embora este nome só tenha sido adotado por ele muito tempo depois).

Após estabelecer a nova Ordem monástica, Swami Vivekananda ouviu um chamado interior sobre a grande missão de sua vida. Enquanto a maioria dos seguidores de Sri Ramakrishna mantinha com ele somente uma relação pessoal, Swami Vivekananda pensava na missão do Mestre em relação à Índia e ao resto do mundo. Como o Avatar da presente Era, qual foi a mensagem de Sri Ramakrishna para o mundo moderno e para a Índia em particular? Esta questão e a consciência de sua própria capacidade motivaram Swami Vivekananda a viajar sozinho pela Índia. Finalmente, em meados de 1890, após receber as bênçãos de Sri Sarada Devi, a divina consorte de Sri Ramakrishna, universalmente conhecida como a Santa Mãe (e que nesta época vivia em Calcutá), o Swami deixou o Monastério de Baranagore e iniciou uma longa jornada para conhecer a Índia e as condições de vida dos seus conterrâneos.

Durante sua viagem por toda a Índia, Swami Vivekananda ficou profundamente tocado ao ver a comovente miséria dos indianos. Foi o primeiro líder religioso da Índia a entender e a declarar abertamente que a real causa da decadência da Índia era a negligência ao apelo dos mais pobres e necessitados. A necessidade imediata naquele momento era de prover alimentos e outras necessidades básicas para milhões de pessoas famintas. Para isto eles deveriam aprender métodos que promovessem o aperfeiçoamento da agricultura, das manufaturas, etc. Foi neste contexto que Swami Vivekananda entendeu a raiz do problema da pobreza na Índia (e que havia escapado da atenção dos outros reformadores sociais daquela época): através de séculos de opressão, os mais pobres e miseráveis haviam perdido a fé em sua capacidade de melhorar as suas condições de vida. Era necessário então, em primeiro lugar, infundir em suas mentes a confiança e a fé em si mesmos.

Para isso, eles precisavam de uma mensagem revitalizante e inspiradora. Swami Vivekananda encontrou esta mensagem no princípio da divindade potencial da alma, o Atman, ensinada pela Vedanta (o milenar sistema filosófico-religioso da Índia). Ele percebeu que, apesar das condições de pobreza em que viviam, os indianos permaneceram firmes em sua fé religiosa, embora eles nunca tenham aprendido os princípios enobrecedores da Vedanta, nem como aplicá-los de forma prática à vida. Assim, os pobres precisavam de dois tipos de conhecimento: o conhecimento secular para melhorar a sua condição de vida, e o conhecimento espiritual para despertar a sua fé interior, e assim fortalecer o seu sentido moral. A próxima pergunta era: como difundir estes dois tipos de conhecimento entre o povo indiano? A resposta que o Swami encontrou foi: "Através da Educação".

A Necessidade de uma Organização


Uma coisa ficou clara para Swami Vivekananda: para colocar seus planos em ação, era necessário disseminar a educação entre os mais necessitados para que eles pudessem se fortalecer e se tornar mais confiantes, principalmente as mulheres e, para isso se tornar realidade, era necessária uma organização eficiente, com pessoas capacitadas e dedicadas. Como ele mesmo disse mais tarde, era preciso “colocar em ação um programa capaz de levar as mais nobres ideias até as portas dos mais pobres e oprimidos”. Foi com este propósito que Swamiji fundou, anos mais tarde, a Ramakrishna Mission.

Quando estas ideias começaram a tomar forma em sua mente, no decurso de sua peregrinação, foi que Swami Vivekananda ouviu comentários sobre a realização do Parlamento Mundial das Religiões, que ocorreria em Chicago no mês de setembro de 1893. Seus amigos e admiradores na Índia queriam que ele participasse. Ele também sentia que o Parlamento poderia ser o lugar ideal para apresentar ao mundo a mensagem de seu Mestre e da Vedanta, e foi assim que ele decidiu ir para a América (EUA).

Outra razão que motivou Swami Vivekananda a ir para a América (EUA) era a de angariar fundos para custear seus projetos de educar e melhorar a situação dos pobres da Índia. O Swami, entretanto, queria ter a certeza e sentir que era da vontade divina o cumprimento desta missão. Ele teve a resposta quando se sentou em profunda meditação no rochedo de Kanyakumari, extremo sul da Índia. Com os fundos necessários para a viagem, coletados por seus discípulos de Chennai somados à contribuição feita pelo Raja de Khetri, Swami Vivekananda partiu rumo a América, saindo de Mumbai no dia 31 de maio de 1893.

O Parlamento das Religiões


Seus discursos no Parlamento Mundial das Religiões tornaram-no conhecido como um “Orador de direito divino” e como o “Mensageiro da sabedoria indiana para o mundo Ocidental”. Após o Parlamento, Swami Vivekananda permaneceu nos EUA por cerca de três anos e meio divulgando a Vedanta da forma como foi vivenciada e ensinada por Sri Ramakrishna, principalmente na parte leste dos EUA e também em Londres, Inglaterra.

A Fundação da Ramakrishna Mission


Logo após o seu retorno à Calcutá, Swami Vivekananda completou outra importante tarefa de sua missão na Terra. Ele fundou, em 01 de maio de 1897, uma organização bastante original denominada Ramakrishna Mission, em que monges e devotos (laicos) podiam trabalhar juntos pela propagação da Vedanta Prática e das várias formas de serviço social, como dirigir e prestar serviço voluntário em hospitais, escolas, faculdades, albergues, centros de desenvolvimento rural, etc. Além disso, conduzir um amplo trabalho de assistência e reabilitação para vítimas de terremotos, ciclones e outras calamidades, nas mais diferentes partes da Índia e outros países.

Belur Math

No começo de 1898, Swami Vivekananda adquiriu um grande lote de terra na margem oeste do Rio Ganges, um lugar conhecido por Belur, para construir as instalações definitivas do monastério e da Ordem monástica originalmente iniciada em Baranagore, e a registrou com o nome de Ramakrishna Math após alguns anos. Neste local Swami Vivekananda estabeleceu um novo padrão de vida monástica, que adapta os antigos ideais monásticos às condições da vida moderna e confere a mesma importância à iluminação pessoal e ao serviço social, e é aberto a todos os homens e mulheres sem qualquer distinção de religião, raça ou casta.

Seus Discípulos


Pode-se mencionar que no Ocidente muitas pessoas foram influenciadas pela vida e mensagem de Swami Vivekananda. Alguns deles se tornaram seus discípulos ou grandes amigos. Entre eles, os nomes de Margaret Noble (conhecida depois como Sister Nivedita), Capitão e Sra. Sevier, Josephine McLeod e Sara Ole Bull, merecem menção especial. Sister Nivedita dedicou sua vida à educação de meninas em Calcutá. Swami Vivekananda também teve muitos discípulos indianos, alguns dos quais se juntaram ao Ramakrishna Math e se tornaram sanyasins (monges).


Últimos dias


Em junho de 1899, Swamiji voltou ao Ocidente para uma segunda visita. Desta vez ele ficou a maior parte do tempo na costa Oeste dos EUA. Após ministrar muitas palestras ali, ele retornou para Belur Math em dezembro de 1900. O restante de sua vida ele passou na Índia, inspirando e guiando as pessoas em sua vida espiritual.

O trabalho incessante, especialmente dando palestras e inspirando pessoas, afetou sua saúde. Swami Vivekananda deixou o seu corpo na noite do dia 04 de julho de 1902. Antes de seu Mahasamadhi, ele havia escrito para um devoto ocidental: “Pode ser que eu acabe até gostando de me livrar do meu corpo, jogando-o fora como uma roupa velha. Mas eu não cessarei de trabalhar. Eu inspirarei homens por todos os lugares, até que todos no mundo venham a realizar que são unos com Deus”.