Emblema da Ordem

Emblema da Ordem Ramakrishna

Certa vez, em 1901, Ranada Prasad Dasgupta, o fundador e professor da Academia Jubileu das Artes, Calcutá, realizou uma visita ao Swami Vivekananda em Belur Math. Ranada Babu, como era popularmente chamado, era um artista profissional, bem reconhecido em seu campo, e um admirador do Swami. Durante sua visita, Swami Vivekananda discutiu com ele vários temas relacionados à arte e arquitetura. No decorrer da conversa, o Swami lhe mostrou o esboço do emblema representando uma síntese dos yogas que ele tinha em mente.

Em um trecho das Obras Completas de Swami Vivekananda lemos:

"O Swami estava com o projeto que tinha esboçado para o selo da Missão Ramakrishna. Ele mostrou-o a Ranada Babu e pediu sua opinião. Neste símbolo havia um lago com uma flor de lótus aberta, e também um cisne. Toda a figura era cercada por uma serpente. Ranada Babu não pôde entender o significado dele imediatamente e pediu uma explicação ao Swami, que lhe disse: "As águas ondulantes na imagem são símbolos do karma, o lótus, de bhakti, e o sol nascente, de jnana. A serpente ao redor é indicativa de yoga, ou o despertar da Kundalini Shakti, enquanto o cisne representa o Paramatman (Ser Supremo). Portanto, a ideia do desenho é que, pela união de Karma (Ação altruísta), Jnana (Conhecimento), Bhakti (Amor divino), e Raja Yoga (Meditação), a visão do Paramatman é obtida."

Foi assim que Swamiji sintetizou o ideal da harmonia das Yogas.

Vamos entender como os diferentes aspectos do emblema representam simbolicamente as quatro yogas:

1. Águas ondulantes (Karma Yoga)

Swami Vivekananda descreve as águas ondulantes como símbolo do karma. Karma significa atividade. De acordo com Sri Ramakrishna, a Realidade Suprema tem duas características inseparáveis: estática e dinâmica. A mesma realidade, que é estática, quando está ativa torna-se dinâmica. Ele disse que esses dois aspectos da Realidade Última são inseparáveis como o fogo e seu poder de queimar.

As águas ondulantes representam o aspecto dinâmico da Realidade.
A água é um dos cinco elementos que, segundo a cosmologia hindu, constituem a totalidade da matéria visível e invisível do mundo. Purusha Suktam, um hino sagrado dos Vedas, diz: "Da água surgiu a criação (adbyah sambhutah)." Para que a ideia da criação seja entendida, deve-se saber que o Ser Supremo, embora seja Único, decidiu tornar-se muitos. Daí nasceu Hiranyagarbha (Matriz de Ouro), do qual vieram todos os elementos da natureza, incluindo a água.

Assim como as águas ondulantes, este mundo de karma está sempre em movimento, sempre mudando e assumindo novas formas, criando novas situações e perspectivas. Assim é o mundo, um estado em constante mudança. Em sânscrito é chamado muitas vezes de bhava sagara, o oceano da existência relativa. O karma yogui aprende a transcender esta inquietação que é originada pela mudança, permanecendo calmo e indiferente. Ele é como a folha de lótus, que nunca se molha ainda que esteja em contato com a água. Sri Ramakrishna descreve melhor o ideal de um karma yogui quando compara a mente humana a um barco. Ele disse que o barco pode estar na água, mas a água não deve estar no barco. Karma Yoga é a arte de se manter independente, não afetado pelos resultados das ações, boas ou más. Não é fugir, mas enfrentar os desafios da vida através de uma ação concreta. Como Swami Vivekananda disse: "Não atirar para longe as rodas da máquina do mundo, mas estar dentro dela e aprender o segredo do trabalho. Através do bom trabalho feito no interior, é possível também sair."

Água, portanto, é um símbolo da Karma Yoga.

2. Lotus (Bhakti Yoga)

Lótus representa o coração. Não é o coração físico, mas o espiritual. Mahanarayana Upanishad diz: "Na cidadela do corpo, há o pequeno lótus imaculado e puro no coração, que é a residência do Supremo. O lótus também representa pureza e desapego; é um símbolo de bhakti ou amor a Deus. A maioria das pessoas direciona seu amor para o mundo. Mas um devoto redireciona seu amor para Deus somente, que reside em seu coração. Embora Deus esteja presente em toda parte, é no coração, o nosso centro espiritual, que se manifesta mais. O coração do devoto é a "sala de visitas do Senhor".

Amar a Deus não significa oferecer um culto elaborado, mas uma oferta feita com amor e de coração. Deus não fica impressionado com aquilo que Lhe é dado, mas com a intenção com que é feita a dádiva. Narada Bhakti Sutras define o amor de Deus como sua própria recompensa maior. Bhakti não é um meio para um fim, mas um fim em si mesmo.

Lotus, portanto, é um símbolo de Bhakti Yoga.

3. Sol Nascente (Jnana Yoga)

O conhecimento está sempre relacionado com a luz. Pois, assim como a luz, o conhecimento revela a verdade. Ele remove o véu da ignorância. Tradicionalmente, o sol tem sido considerado o Deus da sabedoria e da luz. Milhões de hindus cantam Gayatri Mantra todos os dias, dirigindo suas preces à deidade do sol (Savitar) para obter conhecimento e o despertar do intelecto. De acordo com Swami Vivekananda, sol nascente representa jnana (conhecimento) ou o caminho para jnana. Jnana yoga tem por objetivo eliminar a ignorância que envolve o Atman através da purificação da mente e da negação da própria existência da ignorância. É o caminho do "isto não, isso não."

Jnana Yoga não se trata de ganhar mais e mais conhecimento sobre os objetos dos sentidos, ou ter mais ideias contidas nos livros, mas é um processo de descobrir o Ser inerente. É uma pesquisa do conhecimento subjetivo para descobrir o fundamento existencial de tudo o que existe. É uma viagem de paz e solidão, que é da natureza da Existência-Conhecimento-Bem-Aventurança (Sat-Chit-Ananda).

Sol Nascente, portanto, é um símbolo da Jnana Yoga.

4. Serpente enrolada (Raja Yoga)

Serpente representa kundalini, que literalmente significa "enrolada". As escrituras hindus afirmam a existência de um poder espiritual latente, presente em todos os seres, chamado de kundalini. Kundalini está na base da coluna vertebral, no primeiro dos seis chakras (centros) situados ao longo da coluna. Quando a energia kundalini está adormecida, por assim dizer, o homem permanece ocupado com atividades como: comer, dormir e procriar. Para ele, o mundo se resume apenas em satisfazer suas necessidades materiais. Somente quando ele começa a viver um ideal de vida espiritual, de abnegação, de serviço altruísta e oração é que o despertar da kundalini inicia sua ascensão para os centros superiores.
Uma abordagem sistemática para a canalização e orientação do poder espiritual tem sido exposta nos Yoga Sutras de Patanjali. O objetivo básico da Yoga do controle é deixar de se identificar com o corpo e mente através da meditação e concentração. Este caminho é chamado de Caminho Real, Raja Yoga, porque faz uma abordagem mais direta com a ciência da espiritualidade.

A serpente, então, é um símbolo de Raja Yoga.

5. Cisne (Paramatman)

O cisne é um símbolo da Realidade Suprema. Ele representa o conhecimento que nasce da discriminação entre o real e o irreal. Tem por base a crença de que, se o leite diluído em água é dado a um cisne, ele consegue beber somente o leite, separando-o da água. A água representa a ignorância ou o irreal. O leite simboliza o conhecimento ou o Real. Os Upanishads falam de Hamsa Gayatri (mantra em louvor de hamsa - cisne), que é entoado durante certos rituais.

Om hamsa hamsaya vidhmahe paramahamsaya dhimahi / Tanno hamsah Prachodayat Om. "Que possamos conhecer a Luz das Luzes. Para isso, meditemos na Luz Suprema. Que a Luz Divina nos leve ao Supremo Ser."

Swami Vivekananda acreditava que através da combinação dessas quatro yogas (Karma, Bhakti, Jnana e Raja), a experiência da Realidade Suprema (representada pelo cisne) pode ser obtida. Ainda mais: Perceber a Suprema Realidade é o objetivo verdadeiro, e a meta mais importante da existência humana. A religião torna-se efetiva apenas quando se experimenta essa Realidade. Swami Vivekananda diz: "Se Deus existe, devemos vê-lo, se houver uma alma, temos de percebê-la.”